sábado, 3 de agosto de 2019

APRESENTAÇÃO

( OBS: O conteúdo integral deste blog está contido no volume intitulado "THEOPHILO SOARES GOMES (1854-1935): dramaturgo e político paranaense". Para adquiri-lo, acessar o seguinte link: https://www.agbook.com.br/book/275787--THEOPHILO_SOARES_GOMES )
Este trabalho tem como objetivo retratar a vida, o contexto familiar e social, do dramaturgo e político paranaense Theophilo Soares Gomes (1854-1935) (doravante, TSG), do modo como é possível pelas informações disponíveis, especialmente da imprensa local de sua época. TSG nasceu em 1854, juntamente com o primeiro jornal paranaense, o “Dezenove de Dezembro”, e a nova província do Império, a do Paraná, que se emancipou da província de S.Paulo em 1853. TSG tinha 35 anos quando a República foi proclamada. Viveu até 1935, tendo exercido um papel político importante na chamada República Velha. Assim, sua vida tanto pertence ao período monárquico como à Primeira República e investigá-la possibilita também obter alguma informação adicional sobre tais períodos, para além da caracterização do dramaturgo, em sua juventude, e do político, na maturidade. A fonte principal de informações utilizada é, como disse, a imprensa da época, cujo acesso hoje é facilitado pela moderna tecnologia que viabilizou a digitalização dos jornais e outras publicações periódicas. Nesse sentido, um destaque especial deve ser dado à magnífica Hemeroteca da Biblioteca Nacional (link htpp://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx), aqui amplamente utilizada. Também foi consultado o acervo microfilmado relativo aos órgãos da nossa imprensa antiga, disponível na Divisão de Documentação Paranaense da Biblioteca Pública do Paraná, e foram realizadas pesquisas no Arquivo Público do Estado. Essas fontes primárias de informação foram complementadas por valiosas obras da historiografia paranaense, citadas ao longo do texto, que fazem referência explícita a TSG ou auxiliaram o autor na compreensão desses períodos históricos. Este trabalho se apoia pois em notas da imprensa cotidiana. Se bem utilizadas, elas podem ser muito reveladoras de uma pessoa e sua época. Por isso, acredito que este esforço de pesquisa se justifica. Os fatos levantados, relacionados a outros, proporcionam uma visão histórica mais articulada que ultrapassa a dimensão estreita da imprensa, auxiliando o pesquisador a extrair conclusões, dentro do marco teórico-conceitual que adota. Se o nosso biografado fosse uma pessoa humilde, não pertencente às classes dominantes, não seria notícia frequente na imprensa. Assim, esse simples fato já é revelador de uma condição social. E a frequência com que ocorrem tais menções nos permite de certa forma “rastrear” a vida dele... O que interessa, para a vida social, são os dados objetivos de uma trajetória biográfica. O que ocorre no mundo da subjetividade, dentro dos seus limites, não é relevante socialmente. Só o é na medida em que se manifesta externamente, em ações de que o biografado participou, influenciando a vida social (assim como foi por ela influenciado). Um aspecto interessante da abordagem utilizada, com foco numa certa personalidade, acompanhando sua trajetória pelas menções feitas a ela na imprensa de sua época, é a diversidade dessas referências, referindo-se à vida dela em suas múltiplas dimensões—familiar, econômica, profissional, cultural, associativista, política etc, o que nos aproxima de um retrato mais fidedigno da realidade social que é complexa e multifacetada. Assim, o método utilizado -- implicando em ampla coleta de informações publicadas nos órgãos de imprensa da época, com seus vieses conhecidos -- ajudou na busca de um retrato realista do personagem em questão e seu meio. Para tanto, muito interessaram fatos aparentemente corriqueiros, da vida cotidiana, pertencentes à micro-história. Por fim, cabe-me esclarecer ao leitor que, apesar de procurar manter sempre um distanciamento crítico com relação a TSG ---- situando-o em suas vinculações com as oligarquias locais e levando em conta as menções na imprensa tanto elogiosas como críticas a ele ----, não posso negar que lhe dedico uma certa simpatia, pela sua relação de parentesco com meus ancestrais. Theophilo era filho (pelo primeiro casamento) do avô de minha avó Arabela ou, dizendo de outra forma, era meio-irmão de minha bisavó Julieta.
--FOTO SUPERIOR: publicada na "Revista do Povo", que circulou em Curitiba entre 1916 e 1920. ----FOTO INFERIOR: extraída de "História Política da Assembleia Legislativa do Paraná", por Samuel Guimarães da Costa. Curitiba, Assembleia Legislativa do Paraná, 1995, vol. I, p. 284.

I. ORIGENS FAMILIARES

O dramaturgo e político paranaense Theophilo Soares Gomes-TSG nasceu na vila de Antonina, província do Paraná, no dia 16 de fevereiro de 1854 (1). Era filho de Manoel Soares Gomes (1829-1891) (v. foto acima), comerciante português nascido na cidade do Porto, que ainda jovem emigrou para o Brasil com seus irmãos, talvez também com o pai deles, Bernardo Soares (2) Manoel casou-se aqui com D. Maria Gonçalves Moraes Soares, nascida na província de Santa Catarina, filha do tenente-coronel Bento Gonçalves de Moraes Cordeiro. Segundo Ermelino de Leão (3). Moraes e Gonçalves Cordeiro descendem dos mais antigos troncos familiares dessa região do litoral paranaense. Como Manoel nasceu em 1829, ele contava 25 anos quando TSG nasceu. Os irmãos de Manoel chamavam-se Miguel, Joaquim e Antônio Soares Gomes, conforme descobri pelas referências feitas a eles nos jornais paranaenses antigos (4). O livro “O Último Capitão-Mor”, de Samuel Guimarães da Costa (5), transcreve depoimento do cronista Antônio Vieira dos Santos, nascido em 1784, também na cidade do Porto, sobre a sua vinda ao Brasil, e que nos dá uma ideia do trajeto e do tempo decorrido na viagem, embora a vinda para cá de Manoel Soares Gomes tenha se verificado algumas décadas mais tarde: “A 26 de maio de 1797, /.../, saí da casa de meus pais na cidade do Porto e embarquei em um bergantim que no dia seguinte saiu barra fora em direção a Lisboa, onde cheguei com 3 dias de viagem, a 30 desse mês. A 7 de agosto de 1797, /.../, saí da cidade de Lisboa com destino ao Rio de Janeiro, que depois de peripécias de longa viagem de 78 dias entrou à barra da baía de Guanabara, saltando em terra no dia 23 de outubro /.../“(p.4). Acrescenta Guimarães da Costa que Vieira dos Santos, então com 13 anos, empregou-se em casa comercial no Rio de Janeiro e em novembro do ano seguinte (1798) “embarcou na sumaca ‘Princezinha’ /.../ com destino à Vila de Paranaguá, gastando 11 dias nessa viagem” (p.5). O itinerário de Manoel Soares Gomes e a atividade econômica a que se dedicou podem ter sido as mesmas, mas não, talvez, o tipo de embarcação em que viajou (barco a vela), pois segundo C.M. Westphalen (6) desde 1839 já entravam barcos a vapor na baía de Paranaguá, mais frequentes, contudo, na segunda metade do século XIX .Guimarães da Costa, apoiando-se ainda em Vieira dos Santos, afirma que Paranaguá, em 1850, contava com uma população de 7 mil habitantes (p.14). Por outro lado, em outra passagem de seu livro, constam estas observações que mostram não ser exceção o caso de Manoel Soares Gomes: “Os historiadores constataram que a maioria dos emigrantes portugueses para o Brasil vinham justamente de entre Minho e Douro.” E mais adiante: “É impressionante o número de minhotos entre os portugueses que se tornaram troncos de novas famílias de Paranaguá. Nos 30 títulos das famílias que compõem a “Genealogia” de Francisco Negrão, seguramente cerca de metade tem seus troncos originários em portugueses do extremo norte de Portugal.” (p.28) TSG nasceu em Antonina porque seu pai, Manoel Soares Gomes, residia em 1854 nessa vila do litoral paranaense e mantinha relações comerciais com Curitiba, a capital da província recém-instalada (o Paraná emancipou-se da província de S. Paulo em 1853). Isso é o que informações publicadas no primeiro jornal paranaense, o “Dezenove de Dezembro”, permitem inferir. Assim, pouco mais de 4 meses depois do nascimento de TSG, devia continuar a residir em Antonina pois o “Dezenove de Dezembro” menciona Manoel Soares Gomes como uma das pessoas da comunidade que auxiliaram financeiramente as obras da matriz da vila de Antonina (7). No ano seguinte, 1855, o jornal publica anúncio sobre um negro fugitivo, pedindo que ele seja entregue na firma “Soares & Garcia”, em Curitiba, ou a Manoel Soares Gomes, residente em Antonina. Isso mostra a existência de um relacionamento entre Manoel e tal firma, que conforme anúncios no mesmo jornal do mês de janeiro (8) é um armazém “de secos, molhados e ferragens”, e está situado na rua da Carioca, 27, em Curitiba (o armazém acaba de ser aberto). Rua da Carioca é o antigo nome da atual rua Riachuelo dessa cidade. A sociedade de Manoel com Domingos Solis Garcias se desfaz em 22 de agosto de 1856, conforme outro anúncio publicado no mesmo jornal que informa sobre a dissolução de “Soares & Garcias”. Esta deve ser a grafia mais correta do nome da firma (9). Manoel, por residir no litoral, devia ser o importador de mercadorias que abasteciam o estabelecimento comercial de Curitiba. Em abril de 1856 ele devia estar morando em Paranaguá, pois o mesmo jornal traz um anúncio de sua casa de relojoaria e joias aí localizada, na rua da Ordem nº 26. No final de agosto de 1856 outro anúncio é mais específico. Informa que ele vende sortimento de ouros, relógios de sala, de algibeira (de ouro e prata). Na mesma casa comercial também se faz consertos em relógios e caixas de música (10). É possível que a fundação dessa nova firma explique a dissolução daquela sociedade com Garcias ocorrida no mesmo ano, como disse acima. Entre 1854 e 1857 deve ter ocorrido o falecimento da mãe de TSG pois, conforme a mesma fonte, que publicava dados sobre o movimento do porto de Paranaguá (11), o nome da futura 2ª esposa de Manoel já consta como sua acompanhante, usando seu sobrenome, numa viagem do navio a vapor “Conde d’Aquila” procedente de Santa Catarina que entrou naquele porto, em princípios de outubro de 1857. Dentre os passageiros são mencionados Adelaide Soares Gomes, o português Manoel Soares Gomes “e 1 escravo a entregar”. Quando o vapor sai do porto de Paranaguá, eles não constam mais como passageiros desse navio, o que significa que ficaram em terra. Mas só em 1864 é que Manoel se une formalmente a Rita Adelaide Coutinho Soares Gomes (1838-1911), casando-se a 20 de outubro na cidade de Desterro, atual Florianópolis. Esse é também o local de nascimento de Rita Adelaide, conforme minhas pesquisas. TSG tinha então 10 anos. A união de Manoel com Rita resultou em três filhos: Julieta (nascida em Santa Catarina em 1866), Edmundo e Franklin (este nascido no Rio de Janeiro em 1872 (12), o que indica uma possível tentativa de se estabelecer comercialmente nessa cidade. Mas já em 1877, ou antes, Manoel está de volta ao Paraná). Julieta era mãe de minha avó Arabela. Ainda na década de 1860, mais precisamente em janeiro de 1865, a seção “Movimento do porto de Paranaguá” do jornal “Dezenove de Dezembro” registra a entrada, em 1º de janeiro, do vapor “Imperatriz”, vindo de Santa Catarina, trazendo como passageiro, dentre outros, “o português Manoel Soares Gomes” . E no dia 17 desse mesmo mês, registra a saída desse navio para o Rio de Janeiro levando Manoel e seu escravo Amâncio (13). Essas informações nos permitem inferir que Manoel, sediado no litoral paranaense, devia se deslocar frequentemente pela costa brasileira tanto para Desterro (atual Florianópolis) como para o Rio de Janeiro, então capital do país e grande centro importador de mercadorias europeias (que Manoel comercializava), além de contar com uma expressiva colônia portuguesa. A referência mais antiga às atividades profissionais de seu filho TSG encontrei no jornal “Província do Paraná”, de Curitiba, em fevereiro de 1877, quando TSG já contava 23 anos. Consta aí anúncio comercial de sua “casa” em Antonina, que vende debulhadores de milho. Também “encarrega-se de mandar vir, com prontidão”: máquinas e aparelhos para a lavoura e indústria; máquinas de beneficiar café, de Lidgerwood e máquinas de costura Singer (14). Seis meses mais tarde, em agosto de 1877, o mesmo jornal publica anúncios da casa comercial de TSG em Antonina, que vende extrato de lúpulo, para a fabricação de cerveja, moinhos “para reduzir a farinha todos os grãos e mesmo erva-mate”, lampiões a querosene, que evitam explosão, e outros artigos. É uma Casa de Consignações, vende máquinas americanas. TSG, estabelecido em Antonina, era o único agente na província do Paraná de Lidgerwood MF’G Co. Limited, estabelecido no Rio de Janeiro, à rua do Ouvidor, 95. Outro anúncio informa que TSG vende “vinhos genuínos que, porconta de um fabricante muito acreditado em Portugal, recebeu em direitura e vai ter sempre em depósito”. Indica as marcas dessas bebidas: Collares, Arinto, Moscatel, cognacs Moscatel e Sigoumery, Lisboa (15). Por um outro anúncio, publicado no mesmo jornal em outubro de 1877, deduzimos que houve uma divisão de trabalho entre pai e filho, relativamente a um mesmo empreendimento comercial. Enquanto Manoel se estabelecera em Curitiba (provavelmente nessa época, pois a “Província do Paraná” de 18.12.1877, p. 2, chama a atenção do leitor para a sua casa comercial, “fundada há pouco nesta capital”), TSG residia no litoral, certamente o apoiando no recebimento de produtos importados chegados nos portos de Antonina ou Paranaguá e transferindo-os para o pai, no primeiro planalto, além dele próprio também comercializá-los. Segundo o anúncio, aCasa Progresso (“Casa americana importadora”), de M. Soares Gomes & Ca –únicos agentes na província do Paraná da Companhia Lidgerwood (móveis) -- localiza-se à “Rua do Rosário canto do Largo da Matriz” (atual praça Tiradentes), na área mais central de Curitiba. Ela vende “fogões econômicos” importados, máquina de costura Singer, instrumentos de lavoura, louça, porcelana, bandejas e baixela electoplate, lampiões a querosene, vinhos (“somente em caixa ou barril”). O anúncio informa ainda que quem quiser importar mecanismos para engenhos de mate, serraria, fábricas de tijolos, fabricação de açúcar, aguardente, café etc ou qualquer outra mercadoria (tílburis, carrinhos etc) deve contatar TSG em Antonina, que também vende vinhos importados (16). Ainda em 1877, no final do ano, outro jornal, “O Paranaense”, publica anúncio de M. Soares Comes e Comp. Isso também ocorre no começo de 1878 (17). Em setembro desse ano, consta este anúncio no “Dezenove de Dezembro” (18): “Engenhos centrais. M. Soares Gomes & Cª encarregam-se de mandar vir máquinas e tudo quanto for necessário para a montagem garantindo o seu bom êxito. Joias de ouro com pedras finas. M. Soares Gomes & Cª receberam sortimento em direitura de Europa”. Em setembro de 1879,a “Província do Paraná” (19) traz extenso anúncio da casa comercial de M. Soares Gomes & Comp. que indica os muitos produtos que vende, inclusive máquinas de Singer “para o uso de famílias, alfaiates, sapateiros, seleiros etc”, e máquina de tijolos e telhas. Aceita encomendas de máquinas a vapor etc Mas Manoel buscava diversificar suas atividades, voltando-se também para o setor de carnes. Uma edição do “Dezenove de Dezembro” de maio de 1880 (20) informa que foi sancionada a lei provincial nº 621 “autorizando a concessão de privilégio por 20 anos a Manoel Soares Gomes ou a quem mais vantagens oferecer para a construção de dois matadouros, um em Antonina e outro em Paranaguá”. Nesse mesmo ano de 1880 vale registrar que o cidadão Manoel Soares Gomes esteve presente à cerimônia de inauguração, em 22 de maio, do edifício do hospital da Santa Casa de Misericórdia na atual praça Rui Barbosa, em Curitiba, com a presença do imperador D. Pedro II e sua comitiva. Foi uma das 162 pessoas que assinaram a respectiva Ata (21).Essa foi a primeira, e única, vez que o Imperador visitou o Paraná. Em julho de 1882, a “Província do Paraná”(22) publica mais um anúncio da Casa Americana de M. Soares Gomes, destacando que “Continua a ser não só o único agente nesta província para as máquinas legítimas Singer como para máquinas a vapor e todos os maquinismos da muito acreditada LIDGERWOOD MANUFACTURING COMP. LIMITED” e que “É também agente do fabricante Conteville e tem sempre sortimento de balanças, ferramentas e maquinismos para ferreiros, serralheiros, segeiros&” (obs: segeiro = fabricante de seges, de carruagens). No final da vida, a julgar pelas menções na imprensa, Manoel teve uma participação mais ativa na vida da comunidade como uma de suas lideranças empresariais. Em 1883, participou do movimento dos comerciantes da cidade contra a decisão do presidente da província Carlos de Carvalho de instituir um imposto sobre o comércio. Em 5 de abril assinaram uma “representação” encaminhada ao presidente (23). Os comerciantes pedem que haja uma classificação das casas comerciais e sugerem a formação de uma comissão em que poderiam auxiliar o governo provincial nesse trabalho. Um dos 34 comerciantes que assinam a representação é Manoel Soares Gomes. A mesma edição do “Dezenove de Dezembro” que noticiou o fato, publicou nas pp.2-3 outra “representação”, datada de 21 de abril, contra ato do presidente da província de 18 de abril que aditou disposições ao regulamento de 29 de janeiro próximo passado, relativo ao imposto de 1 ½ % sobre as vendas comerciais. Os comerciantes afirmam que a lei que criou tal imposto ofende o ato adicional “que proíbe as assembleias provinciais legislarem sobre impostos de importação”. Eles também lamentam que o presidente não tenha acatado a sua proposta anteriormente encaminhada. Protestam contra a execução do regulamento e dizem que vão levar a assunto à Assembleia Geral Legislativa (Câmara Federal). Assinam 59 comerciantes, um dos quais é Manoel. Na p. 3 desse mesmo jornal consta texto relativo a “habeas corpus” de comerciantes presos por ocasião dos tumultos do final de março. No final de 1884, o “Dezenove de Dezembro” (24) publica matéria alusiva à chegada, proximamente, da primeira locomotiva à estação da estrada de ferro, em Curitiba (procedente de Paranaguá). Visando solenizar o dia da chegada, alguns cidadãos se reuniram no salão Strobel para tratar do assunto. Diversos moradores se encarregaram dos festejos, em diversas ruas. Na rua do Rosário, são citados Matzke (ou Mottzka), major Menezes e Soares Gomes. Manoel, dada a sua proficiência em inglês, foi convidado pelo governo da província para participar da banca de examinadores que atuaria por ocasião dos “exames preparatórios” adotados pelo sistema educacional da época (era um pré-requisito para o acesso ao ensino superior do Império) (25). A “Gazeta Paranaense”, no final de 1885 (26), informa sobre a nomeação, pelo presidente da província (A.E.Taunay), dos examinadores “para funcionarem nas bancas de exames gerais de preparatórios”, que abrangem português, francês, latim, inglês, geografia, filosofia, aritmética, álgebra, geometria, retórica e história. Os examinadores de inglês serão Manoel Soares Gomes e major Saturnino Ribeiro da Costa Júnior. Quase um ano depois, no final de 1886, o mesmo jornal (27) publica novamente a relação das pessoas nomeadas para integrar as bancas de examinadores dos “exames preparatórios”. Quanto à banca de inglês, o presidente será Alfredo Caetano Munhoz e os examinadores, DrAntonio M. de Mello (depois substituído por Augusto Herzberg) e Manoel Soares Gomes (casualmente, estão presentes aqui dois parentes de minha avó Arabela: seu tio Alfredo, Inspetor da Tesouraria de Fazenda, e Manoel, seu avô). Manoel, como não podia deixar de ser, dadas as vinculações familiares/ políticas de seu primogênito, também apoiou o partido Liberal no tempo do Império. Isso é revelado por matéria publicada no “Dezenove de Dezembro” (28). Ele foi um dos signatários (de Curitiba) que aderem ao manifesto assinado na cidade de Castro, em 7 de janeiro de 1888, pelos juízes de paz que constituíram a maioria da junta apuradora do 2º distrito eleitoral da província. Esse manifesto, assinado por 9 juízes de paz (um deles Hippolyto Alves d’Araújo), contesta um boletim publicado na capital da província que divulga o seguinte resultado eleitoral do 2º distrito: “deputados conservadores diplomados 8, liberais 4”, pois o resultado correto é: 12 cidadãos eleitos, “todos pertencentes à parcialidade liberal” (foram expedidos diplomas a eles). O juiz de paz de Ponta Grossa, e quatro outros, da parcialidade conservadora, não concordaram com a proclamação dos eleitos e se retiraram sem assinar a ata respectiva. Encabeçam a lista de adesões (que inclui o nome de Manoel Soares Gomes) o Dr Generoso Marques, o Comendador Antônio Alves de Araújo, o Dr José Lourenço de Sá Ribas, o Ten-Cel Benedito Eneas de Paula, o Dr. Tertuliano T. de Freitas etc O “Dezenove de Dezembro” (29) publica manifestação de pesar --datada de 27.04.1888 e assinada por 25 representantes do comércio de Curitiba -- pelo falecimento do Comendador Antonio Alves de Araújo, “ilustre colega e amigo”. Um dos signatários é Manoel (o Comendador era tio da 1ª. esposa de seu filho TSG). Ainda em 1888, ele integra um grupo de homens de negócios (liderado pelo Barão do Serro Azul) que reivindica a criação de um banco para a Província do Paraná, projeto proposto por Frederico Perracini, conforme nota publicada no jornal “Gazeta Paranaense” (30). Na mesma época, uma edição do “Dezenove de Dezembro” (31) publica nota sobre a fundação do Banco Provincial do Paraná que transcreve carta assinada por Frederico Perracini, seu futuro diretor, datada de 1º de julho de 1888 e dirigida ao redator do jornal. Nela, ele cita o nome de 11 comerciantes e industriais que tomaram a decisão de fundar esse Banco em Curitiba. Manoel Soares Gomes é um deles. Os outros são: Com. Ildefonso Pereira Correia (Barão do Serro Azul), Com. Francisco F. Fontana, Dr. José Pereira dos Santos, Dr. Emygdio Westphalen, Priscilliano Correia, José Hauer, Henrique Peters, Joaquim Queiroz, Antonio Barros e Cyro Velloso. “O capital do Banco será de 500:000$ em 2.500 ações de 200$ cada uma, dividido em 10 prestações /.../ os acionistas serão convocados em assembleia geral para discutir-se os estatutos e formar o primeiro conselho de administração. A subscrição ficará aberta desde 15 do corrente até 15 de agosto próximo /.../“. O pai de TSG permaneceu em suas atividades comerciais até o fim da vida. Em 1889, anúncio na “Galeria Ilustrada” refere-se a M.Soares Gomes como “importador de máquinas a vapor, máquinas de costura, mobílias, instrumentos de lavoura e artigos de ferragem, louça, porcelanas, cristais etc. dos Estados Unidos” (32). No último dia de setembro de 1889, bem no final do Império portanto, o “Dezenove de Dezembro” (33) informa que M. Soares Gomes é um dos 10 comerciantes que integram uma comissão criada em reunião no palácio que dentro de 5 dias dará ao presidente Jesuíno Marcondes sua opinião sobre a proposta que este fez à categoria no sentido de criar “um adicional sobre os direitos pagos pela importação direta” de modo a equiparar sua oneração com a do comércio de importação interprovincial, hoje superior, e assim ajudar a enfrentar a crise nas finanças da província. O fato mostra a importância relativa de Manoel no comércio importador do Paraná da época. Após a proclamação da República, o nome de Manoel Soares Gomes aparece no topo de um rol de cem comerciantes que encaminham documento ao governador Francisco José Cardoso Jr. felicitando-o pelo modo como conduziu o Estado—mantendo o “princípio de autoridade” e assegurando a “ordem pública”—por ocasião dos acontecimentos políticos que acabavam de ocorrer (instauração da República). Segundo o historiador David Carneiro, tal movimento daria como resultado a criação da Associação Comercial do Paraná, em julho de 1890 (34). Manoel Soares Gomes faleceu em Curitiba em 22 de julho de 1891, aos 62 anos incompletos. “A República” (35) noticia o seu falecimento repentino, caracterizando-o como “conceituado negociante e capitalista desta praça”. Alguns anos mais tarde, o “Almanach do Paraná para 1899” (Edição Livraria Econômica, Curitiba) informa sobre as firmas que o sucederam, a cargo da viúva Rita Adelaide e dos filhos Franklin e Edmundo. O “Almanach” publica anúncio da Casa Importadora de Franklin Soares, sucessor de Viúva Soares & Filhos e M.Soares Gomes, estabelecida na praça Tiradentes, 21, em Curitiba, com foto do seu prédio (7 portas no térreo, 7 janelas no andar superior). No anúncio consta que a firma detém “O maior depósito de máquinas de costura no Paraná” e que é “Grande depósito das legítimas e afamadas máquinas Singer”- The Singer Manufacturing &Co, New York- . Também anuncia bicicleta Singer (road ranger) Model B, além de uma série de outros produtos: “Completo sortimento de ferragens, metais, louças, cristais, vidros. Mobília, espelhos, tapetes, fantasias e novidades. Maquinismo, arados, carros de mão, cimento, bombas e encanamentos.” Aparentemente, Franklin Soares mudaria de ramo em sua atividade comercial. No “Almanach do Paraná para 1904” (sétimo ano, redator: Romário Martins), é citado estabelecido na praça Tiradentes no ramo de fotos (“fotografias“), junto com Adolpho Wolk, Max Kopf, José Weiss & Irmão. Mais tarde, no “Almanach do Paraná para 1908” (redator: Corrêa Netto) consta, dentre outras firmas no ramo de fotografias, Franklin S. Gomes, estabelecido na rua 15 de Novembro. Nesse mesmo Almanach, em outra página, consta anúncio de Franklin Soares (endereço: Rua 15 de Novembro, 22-24), nestes termos: 1) primeira metade da página: Fotografia. “Grande sortimento de artigos fotográficos, lanternas de ampliação, aparelhos de viagem e de luxo, para profissionais e amadores. Chapas Agfa. Recebe-se todos os meses papel Celloidin, Matt e brilhante emulsão recente. Cartões postais sensíveis celloidin e bromuro. Produtos químicos garantidos. Receitas e explicações grátis.” 2) segunda metade da página: Filatelia!. “Selos para coleções em folhas a escolher. Compra-se selos nacionais. Completo sortimento de Álbuns para selos desde 1$500 até 180$000” No “Almanach do Paraná para 1912” Franklin Soares não aparece no Indicador Comercial mas no “Almanach” para 1913 sua firma consta em tal Indicador, no ramo de “Cigarros e Charutos”. Endereço: rua Riachuelo. Segundo meu pai, Herbert Munhoz van Erven, Franklin vendeu todo o seu equipamento fotográfico para Francisco Serrador. A propósito, Franklin Soares Gomes é citado no “Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro (1833-1910)” de Boris Kossoy (Instituto Moreira Salles, 2002), como um dos pioneiros da fotografia no país. A Casa da Memória, em Curitiba, possui em seu acervo algumas fotografias da cidade tiradas por ele.

II. OS IRMÃOS DE MANOEL SOARES GOMES, PAI DE THEOPHILO

Neste capítulo, procuro avançar na caracterização do contexto familiar e social de TSG, reunindo as informações que consegui obter sobre Miguel, Joaquim e Antônio Soares Gomes, irmãos de Manoel Soares Gomes, pai de TSG, que também emigraram para o Brasil. Tais informações foram extraídas, em sua maioria, de antigos periódicos da imprensa paranaense, cujo primeiro jornal, o “Dezenove de Dezembro”, surgiu junto com o início da vida do Paraná politicamente independente. Miguel Soares Gomes faleceu em Paranaguá no dia de seu aniversário natalício aos 78 anos de idade, em 1903, por onde se deduz que nasceu em 1825 (mais velho que Manoel, nascido, como vimos, em 1829). Foi da Marinha de Guerra do Brasil, tendo a deixado no posto de 2º tenente. Em 24 de dezembro de 1889, participou da instalação do Club Republicano em Antonina, pois seu nome aparece como um dos subscritores da respectiva ata (36). Joaquim Soares Gomes nasceu em 1833 e faleceu em 19 de setembro de 1910 (37). Pelas múltiplas referências a ele na imprensa paranaense, teve uma atuação bastante relevante na comunidade de Paranaguá, à qual, aparentemente, esse português se integrou muito bem. Foi importante homem de negócios, especialmente na área do comércio exterior, sendo consultado em 1882 pelo presidente da Província sobre tarifa aduaneira, juntamente com o Visconde de Nácar, Ildefonso Pereira Correia (Barão do Serro Azul), Francisco F. Fontana, comendador Araújo e outras 6 pessoas). Exerceu o jornalismo, tendo redigido “Echo Litterario” e “O Ityberê”, publicações do tradicional Club Literário de Paranaguá, do qual foi também presidente em 1880-81 (38). O “Echo Litterario”, conforme informa uma edição de 1875 (39), era uma publicação hebdomadária, com uma Comissão de redação integrada por Joaquim, Soares Gomes, Dr. Leocádio José Correa e Francisco J. Machado da Silva. Quanto à outra publicação mencionada, segundo uma edição de “O Paranaense”, de janeiro de 1882 (40), o Club Literário de Paranaguá imprimiria uma folha hebdomadária (“humorística, literária, comercial e noticiosa”) intitulada “O Ityberê”, que seria redigida por Joaquim Soares, Dr. Leocádio Correia, Leocádio Pereira, Fernando Simas, Manuel Souza e outros. Joaquim também colaborou para “O Século”, surgido em 1891 e dirigido pelo seu concunhado dr. João Evangelista Espíndola. Durante trinta e cinco anos Joaquim foi o representante consular de Portugal em Paranaguá, além de também ser o agente consular da Inglaterra e França nessa importante cidade portuária do Paraná (representou ainda outros países, em certos períodos). Ele subscreveu, em 1859, com outras 12 pessoas, o Compromisso da Irmandade do SS. Sacramento de Paranaguá. Pertenceu à loja maçônica “Perseverança”, da qual foi um dos fundadores, em 1864, integrando a sua primeira diretoria. A loja empregou seus fundos na libertação de escravos. Em 1876, o “Dezenove de Dezembro” menciona Joaquim como o delegado, na província do Paraná, do Grande Oriente Unido, cujo chefe nacional é o conselheiro Joaquim Saldanha Marinho. Aliás, o mesmo jornal, no ano anterior, sob o título “Festa maçônica em Paranaguá”, informou o desembarque de Saldanha Marinho na cidade, de passagem para o Rio Grande do Sul, participando de um almoço que aí lhe foi oferecido, ocasião em que Joaquim ergueu o primeiro brinde (41). Esse tio de TSG foi também um dos fundadores do Club Republicano de Paranaguá, fundado em 1887 segundo Francisco Negrão (“Genealogia Paranaense”, v. 6, p. 247). Mas esteve presente no baile oferecido a D. Pedro II, em 19 de maio de 1880, quando da visita do Imperador ao Paraná, conforme a “História de Paranaguá” citada na nota (41), p. 323). Joaquim foi também presidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência, de Santos, no período 1901- 1904 (fonte: site Wikipédia). Ainda em 1875 participou de uma sociedade destinada a introduzir e estabelecer aqui 4000 colonos europeus. Defendeu que o ponto de partida da linha férrea a ser construída desse preferência ao porto D.Pedro II de Paranaguá e reivindicou, juntamente com outros representantes do comércio e indústria do Paraná, a construção de um cais nesse mesmo porto. Casou em 1871 com D. Josephina Pereira Alves Soares Gomes (1844-1917), filha de Antônio José Pereira, irmão do último capitão-mor (e primeiro prefeito) de Paranaguá Manoel Antônio Pereira. O casal não teve filhos. (42) Alberico Figueira refere-se em artigo ao “cônsul inglês em Paranaguá, o jornalista e poliglota Joaquim Soares Gomes”. Em outro artigo (de 1938), afirma que ele “foi uma das mais expressivas mentalidades daquela época” (43) Sobre ele, “O Itiberê” (agora uma revista, e não jornal) numa edição de 1968, afirmou na legenda à foto de um desenho que reproduz “O Solar do Capitão-Mor”: “Aqui Joaquim Soares Gomes, português ilustre, expatriado como Miguelista, reunia a intelectualidade paranaense de sua época. Correia Defreitas, Leôncio Correia, José Henrique, João Régis e Nestor Victor foram ancilas suas, ele, Tio Soares, o fulgurante Sol”. Essa menção à sua condição de “miguelista”, i.e. partidário de D. Miguel, adversário de D.Pedro IV em Portugal (o nosso D.Pedro I), sugere uma motivação política para a vinda de Joaquim (e seus irmãos) para o Brasil. É uma possibilidade, considerando que eles não vieram para cá em situação econômica muito ruim, pois logo se dedicaram a um comércio de porte maior, que exigia mais capital, em vez de um pequeno comércio local de secos e molhados, por exemplo. Nessa mesma edição de “O Itiberê”, num artigo de Anthero Regis sobre Nestor Victor, após referir-se à educação formal do escritor, consta o seguinte: “O melhor, contudo, de sua formação cultural básica obteve no convívio que fez, constituindo o grupo de rapazes daquela época que frequentavam o escritório do português Joaquim Soares Gomes, grupo onde destacavam-se Correia Defreitas, Eliseio Pereira Alves, Leôncio Correia, João Régis Pereira da Costa e José Henrique Santa Rita” (44). Alberico Figueira, em artigo publicado numa edição de 1939 de “O Dia” (45), lembra conferência de Vicente Machado no Club Republicano de Paranaguá em 13 de novembro de 1889 e faz este comentário interessante sobre Joaquim Soares Gomes: “/.../ o hóspede dos republicanos, quando não se achava no hotel em que se hospedara, fazia ponto de palestra no escritório do ilustre jornalista português sr. Joaquim Soares Gomes, personalidade de destaque nos meios intelectuais /.../ O escritório do venerando Soares Gomes era evidentemente onde se reuniam todos os homens de cultura que passavam naquela época por Paranaguá. Ali discutia-se com elevação de espírito todas as questões sociais e políticas que agitavam o mundo e Soares Gomes, pela sua cultura, pelos seus conhecimentos práticos, sua palavra erudita disputava o maior interesse da roda que dele se acercava.” O terceiro irmão de Manoel, Antônio Soares Gomes, que sempre residiu em Antonina, faleceu em 1927, de acordo com esta nota publicada no “Diário da Tarde”: “Anteontem, na cidade de Antonina, faleceu o venerando comendador Antonio Soares Gomes, sogro do coronel Lauro Loyola, pai da viúva coronel Francisco Marçallo e tio do coronel Theophilo Soares Gomes. Foi comerciante, agente de companhia de vapores, industrial e representante de consulados, desde o tempo do antigo regime, muito estimado e conceituado naquela cidade litorânea, onde sua morte, bem como em outras localidades /.../, foi grandemente sentida” (46). Sua esposa foi a professora Maria Júlia da Costa Soares Gomes. O casal teve três filhas: 1) Maria Joaquina, casada com o coronel Francisco Marçallo, já falecido em 1927, como se viu acima, pois fora vítima de um “desastre de automóvel quando de Antonina se dirigia para Curitiba pela Estrada da Graciosa”, conforme Francisco Negrão, que o chama de “ativo e abastado comerciante” (para Octavio Secundino, era um “grande embarcador e industrial); 2) Ana Emília, esposa do coronel Lauro do Brasil Loyola, “homem do alto comércio e político de escol”, segundo Secundino. F. Negrão afirma que Lauro foi prefeito municipal de Antonina e deputado estadual; e 3) Ismênia, casada com o cel Theophilo de Oliveira Marques, falecida logo após o casamento (47). Octavio Secundino também informa que Antônio, além de dominar a legislação mercantil e lecionar contabilidade, sabia bem francês, tendo dado aulas desse idioma ao jornalista Nestor de Castro e aos poetas paranaenses Thiago Peixoto e José Cadilhe. Em 1877 ele era o delegado em Antonina do vice-consulado português de Paranaguá. Em 1885, quando o presidente da província Taunay visitou o litoral paranaense, instalou diversas sociedades locais de imigração, inclusive a de Antonina. Na diretoria então escolhida, Antônio Soares Gomes ocupa o cargo de tesoureiro (48). Na edição citada de “Futuro”, na nota 48, é publicado o texto do “Manifesto” da Sociedade Central de Imigração, fundada por Alfredo d’Escragnole Taunay, datado assim—Rio de Janeiro, 21.10.1885. E em “Futuro” de 14.12.1885, p.3, consta o “Prospecto Geral” dessa Sociedade para a organização de companhias regionais de imigração. As companhias funcionavam como empresas de imigração (mandando vir da Europa seus compatriotas, facilitando-lhes o transporte etc) como sociedades cooperativas de consumo e como caixas econômicas. No tempo do Império, Antônio vinculou-se ao partido Liberal, como seu sobrinho TSG. Em 1881, consta no “Dezenove de Dezembro” (49) matéria sobre o baile realizado em Antonina em homenagem ao chefe do Partido Liberal da província conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá. Na relação das 93 pessoas signatárias da felicitação lida pelo representante da municipalidade são citados, além de A. Alves de Araújo e M. Alves de Araújo, os nomes de Antônio e TSG. A nota do DD chama os signatários de “93 dos principais cidadãos de Antonina”. Em 1888, conforme ata da 7ª sessão ordinária da Assembleia Provincial, publicada no “Dezenove de Dezembro” (50), Felipe Pereira Caldas e Antônio Soares Gomes deram entrada na Assembleia de um requerimento “pedindo isenção do pagamento de direitos por 15 anos para estabelecerem uma fábrica de destilação de cereais e fabricação de álcool”, o que mostra a intenção de Antônio de envolver-se também na atividade industrial e diversificar suas atividades. Logo após a proclamação da República, em 26 de dezembro de 1889, o governador do Paraná encaminhou ao novo governo do país proposta de Antônio “de realizar um serviço de navegação regular a vapor, entre diversos pontos do litoral”. Em resposta ao governador, o ministro Francisco Glicério, do governo provisório da República, afirmou que tal proposta seria levada em consideração oportunamente. Abaixo, uma síntese das menções mais significativas relacionadas a Antônio nos órgãos de imprensa pesquisados. Em 1901, em várias edições de “A República”, o nome de Antônio consta em relação dos exportadores de erva-mate (para Buenos Aires, Rosario e Montevideo) por Antonina. Em 1903, ele pertencia ao Partido Republicano Federal e participou da escolha de seu novo diretório de Antonina, formado pelos coronéis Theophilo Soares Gomes (seu sobrinho), Lauro do Brasil Loyola (seu genro) e Líbero Guimarães. Nesse mesmo ano, um telegrama publicado em “A República” informa que Antônio foi nomeado vice-cônsul da República Argentina em Antonina (já fora vice-cônsul do Chile, até 1900). Em 1905 foi eleita a nova mesa e conselho fiscal da Casa de Caridade de Antonina, sendo escolhido Theophilo Soares Gomes como provedor. Antônio foi um dos 54 “irmãos” que votaram nessa eleição. Em 1907, a visita de Antônio a Curitiba, com o genro, Lauro Loyola, é registrada pela imprensa, que chama tais “coronéis” o primeiro de “respeitável capitalista” e o segundo, de “conceituado comerciante” de Antonina. Em 1908 foi instalado o partido da Coligação Republicana em Antonina. O diretório local então formado é presidido pelo cel Lauro Loyola. Antônio também integra esse diretório. Já em 1909 ele foi um dos membros desse partido que escolheram as comissões que se encarregariam dos serviços eleitorais no pleito de 30 de janeiro para a escolha dos integrantes do Congresso federal. Em 1914 o “Diário da Tarde” publica ata da reunião, realizada em 14 de março, da Assembleia de acionistas do Banco de Curitiba, com a relação de todos eles, um dos quais era Antônio Soares Gomes. Nesse mesmo ano, o Hospital de Caridade de Antonina empossou a mesa eleita para o ano 1914-15. O provedor é Lauro do Brasil Loyola e Antônio integra o Conselho Fiscal. Uma edição de “A República”, em 1917 (51) registra o aniversário, ocorrido no dia anterior, de D. Maria (Júlia, acrescento eu- DvE) da Costa Gomes, esposa do “venerando comendador Antonio Soares Gomes”. Artigo de Octavio Secundino, de 1929, sobre a festa de N. Sra. do Pilar, em Antonina, menciona o tradicional Club Antoninense, “criado em agosto de 1873”, “onde não há muito tempo encantaram com sua proveitosa ação: Coronel Theophilo /.../, Coronel Marçallo /.../, Antônio Soares Gomes, Lauro Loyola /.../”(52).

III. UNIÃO PELO CASAMENTO COM A FAMÍLIA AVES DE ARAÚJO

TSG “estudou primeiras letras na cidade natal”, segundo Davi Carneiro. e Túlio Vargas (53). Mas se o pai já estava morando em Paranaguá em 1856, o mais provável é que foi nessa cidade que ele fez os estudos elementares, e não em Antonina. Conforme registros do movimento (de passageiros) do porto de Paranaguá, sobre a entrada e a saída de navios, publicados pelo jornal “Dezenove de Dezembro”, o jovem TSG viajava para o Rio de Janeiro e Santa Catarina (Desterro). Em 1866, TSG, aos 12 anos, consta no jornal que ele vem do Rio de Janeiro acompanhado de Antônio Alves de Araújo, o comendador Araújo (54). Isso mostra a antiga ligação entre as famílias Soares Gomes e Alves de Araújo, desde quando TSG era bem novo (tanto sua 1ª esposa quanto a 2ª. pertencerão a essa família). Três meses depois daquele registro o mesmo jornal (“Dezenove de Dezembro”) noticia a partida de um navio para Desterro e TSG é novamente citado entre os passageiros. Numa época de precárias comunicações por terra, a ligação pelo mar entre os diversos núcleos urbanos da costa brasileira era constante. Também entre os do litoral paranaense e os demais, especialmente os de S. Paulo e Rio de Janeiro, além dos de Santa Catarina (55). Em 9 de dezembro de 1876, aos 22 anos, TSG casou em Antonina com D. Maria Rosa Cumplido, filha de Fanor Cumplido e de D. Hipólita Alves de Araújo Cumplido (56). Vincula-se assim, agora formalmente, a uma das mais importantes famílias da província—tanto economica como politicamente—reforçando os laços de amizade entre as duas famílias que, certamente, há muito já existiam, como indica o fato, apontado acima, do comendador Araújo ter acompanhado o jovem TSG, de 12 anos, em sua viagem de navio, do Rio de Janeiro a Paranaguá. Fanor Cumplido era natural de Montevideo e “grande industrial e exportador de erva-mate no Paraná”, segundo Francisco Negrão (57). Ele também podia executar obras para o governo da província, pois no ano anterior, 1875, segundo o “Dezenove de Dezembro”, Fanor Cumplido fora um dos onze “licitantes” que apresentaram proposta para a conservação e reconstrução de 98 km da estrada da Graciosa e ramais durante cinco anos. Os outros licitantes incluíam a Companhia Florestal Paranaense e o comendador Manoel Gonçalves de Moraes Roseira (58). D. Hipólita, a sogra de TSG, era filha do cap. Hipólito José Alves, na época, “talvez o maior capitalista da província, e cuja recente mudança para aquela cidade (Antonina) era considerada como um grande elemento para sua futura prosperidade”, segundo o seu obituário, publicado em 1857 no jornal “Dezenove de Dezembro” (59). D. Hipólita era irmã do comendador Antônio Alves de Araújo, do conselheiro Manoel Alves de Araújo, do brigadeiro Hipólito Alves de Araújo, do comendador Henrique Alves de Araújo, de D. Domitila Alves de Araújo (casada com o conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, chefe do Partido Liberal e ex-Ministro da Agricultura do Império), do coronel Joaquim Alves de Araújo, de D. Maria Rosa de Araújo, casada com Manoel de Leal Pancada, e de João, “morto sem descendência” (60). Assim, por esse casamento (e também pelo segundo, como veremos abaixo), TSG passa a ser sobrinho, por afinidade, do comendador Araújo, do conselheiro Araújo e do conselheiro Jesuíno Marcondes, os dois últimos ex-ministros do Império e pertencentes ao partido Liberal. Segundo David Carneiro, o comendador Antônio Alves de Araújo (1830-1888), nascido em Morretes, possuía, por volta de 1850, “a maior fortuna do Paraná nessa época”. Sua primeira esposa era “dona de quase toda a vila de Antonina e, em Morretes, de muitas terras adjacentes”. Foi deputado à Assembleia Provincial nos períodos 1856-57, 1868-69 e 1880-84 e vice-presidente da província em 1883 e 1885 (61). Seu irmão, o conselheiro Manoel Alves de Araújo (1836-1910), também nascido em Morretes, formou-se pela faculdade de Direito de S.Paulo. Militante do partido Liberal, foi deputado à Assembleia Provincial por várias legislaturas e deputado geral de 1878 até 1889, tendo sido secretário e presidente da Câmara. Além de 1º vice-presidente da província do Paraná, foi ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Império, em 1882 (62). Teófilo dedica sua peça “Os milagres de N.Sra. do Pilar” a ambos (ao Comendador e ao Conselheiro), chamados de “parentes”. Dedica também a peça ao “seu pai e amigo”. O conselheiro Jesuíno Marcondes (1827-1903), “chefe supremo do Partido Liberal no Paraná, nos anos de 1853 a 1889”, também foi deputado provincial e geral por várias legislaturas, vice-presidente da província do Paraná (exercia a presidência quando ocorreu a proclamação da República) e ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas em 1864-65 (63). Desse primeiro casamento de TSG nasceram cinco filhos, um dos quais foi o engenheiro civil Heitor Soares Gomes, eleito, em 1920, Prefeito Municipal de Antonina (64). Nessa cidade ele nasceu em 1º de setembro de 1888. Formou-se em Engenharia pela Escola Politécnica de S. Paulo (65). A primeira esposa de TSG deve ter falecido entre setembro de 1888 (parto de Heitor, o que poderia ter sido a causa do óbito) e o início de junho de 1890 (2º casamento dele). Considerando os dados citados, foram casados por aproximadamente 12 ou 13 anos. Em 7 de junho de 1890, o jornal “Sete de Março” traz uma pequena nota informando o casamento de TSG com D. Maria Rosa de Araújo (66), prima-irmã (homônima) da primeira esposa, pois ela era filha do comendador Henrique Alves de Araújo (1850-1915), irmão de D. Hipólita, nascido em Antonina, conforme nos informa a “Genealogia Paranaense” de Francisco Negrão. Desse 2º casamento de TSG resultou uma filha, Sara, que se casou em 1914 com Adolar Hengreville Hintze (67). O “Diário da Tarde” registrou o casamento deles, cujos padrinhos foram as principais lideranças políticas da época (Carlos Cavalcanti e Afonso Camargo), indicando a importância que TSG e seu filho Heitor detinham na política estadual no tempo da República Velha (68). No necrológio do comendador Henrique Alves de Araújo publicado em junho de 1915 no jornal “A República”, somos informados que ele era viúvo de D. Cherubina Marcondes Alves de Araújo, estudou na Alemanha e “foi grande fazendeiro e industrial neste Estado” (69). Em outra edição desse jornal, na seção “Telegramas”, consta um de Porto Amazonas, apresentando pêsames à família Alves de Araújo e “ao nosso prestigioso correligionário” cel TSG pelo falecimento do comendador Henrique Alves de Araújo (70). A esposa deste, D. Cherubina, falecera em maio de 1913, conforme o “Diário da Tarde” (71). Era sobrinha do conselheiro Jesuíno Marcondes (72).

IV. NO TEMPO DO IMPÉRIO

Em 1877, já vimos que TSG, aos 23 anos, se dedicava profissionalmente às atividades comerciais, participando com destaque da vida social em Antonina. Já estava casado com uma jovem pertencente a uma das mais importantes oligarquias familiares da Província. Nesse ano, a “Província do Paraná” de 9 de junho publica matéria elogiosa ao Barão de Tefé, que estava encarregado de executar melhorias no porto de Antonina. Posteriormente, o jornal traz nota de agradecimento da Comissão -- encarregada do baile oferecido ao Barão de Tefé e 1º tenente Aprígio dos Santos Rocha -- a todos aqueles que concorreram para o êxito da festa. Assinam a nota Joaquim P. Pinto Chichorro, Benigno Augusto Pinheiro Lima e Theophilo Soares Gomes. Está datada assim: “Antonina, 10 de junho de 1877”. Mais tarde, em julho do mesmo ano, a “Província do Paraná” divulga carta do Barão, ao retornar para a corte, dirigida à Câmara Municipal de Antonina, em que agradece a recepção e a amabilidade de que ele e seu ajudante foram alvos. (73) Ainda em 1877, no jornal “Dezenove de Dezembro” (74) “o ilustre escritor português” José Palmella, ao retirar-se da província, onde fez conferências em favor da propagação do ensino obrigatório, manifesta a uma série de pessoas “reconhecimento pelas provas de simpatia, finezas e obséquios recebidos”. Em Paranaguá, ele menciona, dentre outros, o vice-cônsul português Joaquim Soares (tio de TSG). Em Antonina, Theophilo Soares e Antônio Soares Gomes (tio de TSG). Em Curitiba, o major Manoel Negrão, Alfredo Munhoz e cavalheiros que fizeram parte das comissões enviadas pelo club “Literário Curitibano”, das lojas maçônicas- “Apóstolo da Caridade”, “Concórdia 4”. A nota está datada assim: “Curitiba, 22 de outubro de 1877”. Em 28 de setembro de 1878 TSG foi nomeado (pela primeira vez) Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, em substituição ao tenente-coronel Joaquim Candido Corrêa, conforme o “Dezenove de Dezembro” (75). Mas logo perde essa posição, Mas logo perde essa posição, em 1879, pois TSG é citado no “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Paraná para 1880”, como Adido à Alfândega de Paranaguá e Ex-Administrador da Mesa de Rendas de Antonina. Não permaneceu muito tempo no cargo, certamente devido às mudanças ocorridas no governo, embora todos fossem do partido Liberal. Quando TSG foi nomeado, o presidente da província era Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes (até 31 de março de 1879), sucedido pelo vice-presidente Jesuíno Marcondes, no exercício do cargo até 23 de abril de 1879, quando assumiu o novo presidente, Manoel Pinto de Souza Dantas Filho (76). Aparentemente, não havia incompatibilidade entre a acumulação das atividades do comerciante TSG com as de funcionário público fazendário. Ao longo de 1879, o liberal Jesuíno Marcondes sofreu críticas pesadas do oposicionista “O Paranaense”, órgão do partido Conservador, cujo redator era Justiniano de Mello e Silva (77). Na edição de 3 de fevereiro, há uma matéria sobre a colonização de Palmeira em que se critica Jesuíno Marcondes, chefe do partido Liberal, chamado de “Cacique da província”. (Hypolito Alves de Araújo é chamado de “genro do Exmo Cacique”). Um pouco antes, na edição de 26 de janeiro, o jornal critica a situação dos imigrantes russo-alemães, afirmando que eles foram assentados em “terras sáfaras” (= improdutivas, segundo dic. Houaiss) e que os “areais dos Marcondes foram comprados por fabulosas somas”. Em 9 de setembro, “O Paranaense”, na seção “Folhetim”, remete ao “Deutsch Zeitung” que publicou matéria a favor dos russos que voltaram para a Europa. Mostra dados quanto às terras compradas na região em que eles seriam assentados, todas de membros da família de Jesuíno. Valor total: 452:873$000. O jornal qualifica as terras como “péssimas”. Também na edição de 5 de outubro consta no jornal matéria sobre o fracasso da colonização russo-alemã, em que se critica a compra de terras estéreis para assentar os imigrantes, vendidas por Jesuíno Marcondes e seus familiares. E no ano seguinte, em maio de 1880, afirma que houve “aquisição de terrenos completamente imprestáveis” para o assentamento do colonos russo-alemães. Ainda em 1879, em 13 de julho, “O Paranaense” publica uma relação de 20 nomes, supostos candidatos a deputados provinciais. O primeiro da lista é o Conselheiro Jesuíno Marcondes, e todos os outros 19 têm alguma relação de parentesco com ele, indicada após o nome. Um é tio, outro é cunhado, primo, genro etc. Assim, consta aí Dr. Manoel Alves d’Araújo, “cunhado”, Comendador Antônio Alves d’Araújo, “cunhado”, Amazonas d’Araújo Marcondes, “primo” etc TSG é citado como Theophilo Soares d’Araújo (sic), “sobrinho”, e D. Fanor Cumplido, “concunhado”. Trata-se de uma nota obviamente irônica e crítica, mas certeira, contra a forma (personalista, dependente dos chefes políticos) como era definido na época o rol de candidatos a deputados apresentado pelos partidos. O problema é que isso não ocorria só no partido Liberal... No mês seguinte, em 26 de agosto, “O Paranaense” publica a chapa “oficial” do partido Liberal contendo seus 20 nomes de candidatos a deputados à Assembleia Provincial. Mas na introdução a ela há uma nota crítica. Afirma-se aí que tal chapa foi “confeccionada pelo conselheiro Jesuíno”. E depois da eleição para deputados provinciais, realizada em 7 de setembro, “O Paranaense” do dia 21 confirma: “Triunfou /.../ a chapa atirada ao eleitorado da província pelo conselheiro Jesuíno Marcondes”. (77) No “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Paraná para 1880” antes citado, na p.149, consta que uma “escola promíscua” foi fundada em outubro de 1879, no bairro da Cachoeira, por algumas pessoas de Antonina. Suas despesas correm por conta dos cidadãos João Manoel Ribeiro Vianna e TSG. Esse fato foi também noticiado no “Dezenove de Dezembro” de 13.11.1879, p. 4. Alguns meses antes, uma edição da “Província do Paraná” de maio de 1879 (78) publicou parte do relatório do presidente Rodrigo Otávio, ao passar a administração da província ao conselheiro Jesuíno Marcondes em 31 de março de 1879, onde TSG é mencionado. Ele, juntamente com João Manoel Ribeiro Vianna e Antônio Alves dos Reis, compõe a comissão que dirige os trabalhos relativos à estrada de Antonina à colônia Assungui (atual Cerro Azul), e que, futuramente, se estenderia até Castro. Em 1880, no DD de 19 de maio, p. 2, consta despacho do presidente da província mandando o engenheiro Tourinho informar sobre um requerimento “que a S.M. o Imperador dirige o cidadão argentino D. Fanor Cumplido pedindo permissão para abrir uma estrada que pelos campos de Palmas e Erê, nesta província, vá a Corrientes, na Confederação Argentina” (Fanor Cumplido, como se viu, era pai da 1ª esposa de TSG, seu sogro, portanto). Em 18.05.1880, o imperador Pedro II e esposa desembarcaram em Paranaguá para uma visita de 20 dias à província do Paraná (79). No último dia do mês de junho desse ano o “Dezenove de Dezembro” (80) publica matéria sobre a visita do Imperador ao Museu em Paranaguá. No rol de pessoas que ultimamente fizeram doações a esta instituição consta o nome de TSG (ele doou “um tucano empalhado”). Por outro lado, numa edição desse jornal do fim de setembro (81), consta o seguinte: “Na exposição dos objetos oferecidos ao museu /.../ chamou a atenção de todos um primoroso vaso, feito de conchas, contendo um belíssimo ramalhete de flores e frutos, interessante trabalho feito de escamas, penas, conchas e cepilho etc pela Exma Sra D. Rita Soares Gomes (2ª esposa de Manoel Soares Gomes, pai de TSG, acrescento eu- DvE; também sublinhei). Descansa o referido vaso sobre uma engenhosa máquina, que habilmente foi arranjada pelo Sr. Domingos José Fernandes Júnior, e produzia o curioso efeito de fazer constantemente girar o mesmo vaso, tocando peças de música com intervalos de cinco minutos” (82) Em outra edição do ”Dezenove de Dezembro”, de março de 1881 (83) o nome de TSG consta na relação de pessoas que fizeram doações ao Museu Paranaense. Ele doou “um tucano empalhado e dois cascos de tatu”. Em 1881, o “Dezenove de Dezembro” informa, sob o título Guarda Nacional, que TSG foi nomeado, por decreto de 14 de maio desse ano, “Major ajudante d’ordens servindo de secretário geral”. Também “O Paranaense” noticiou o fato, publicando a relação de nomeados para a Guarda Nacional da Comarca de Antonina (84). Em agosto do mesmo ano, no “Dezenove de Dezembro” (85) consta matéria sobre o baile realizado em Antonina em homenagem ao chefe do Partido Liberal da província conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá. Na relação das 93 pessoas signatárias da felicitação lida pelo representante da municipalidade são citados, além de A. Alves de Araújo e M. Alves de Araújo, os nomes de TSG e de seu tio Antônio Soares Gomes. A nota do DD chama os signatários de “93 dos principais cidadãos de Antonina”. No final de 1881, TSG era novamente o Administrador da Mesa de Rendas de Antonina (cargo que ocupara em 1878-1879, como vimos) pois no “Expediente da Presidência” do dia 29 de novembro, publicado no DD (86), consta o seguinte: “O presidente da província concede ao administrador da mesa de rendas de Antonina, Theophilo Soares Gomes, dois meses de licença, com vencimentos, na forma da lei, para tratar de sua saúde dentro da província”. Em 1882 TSG já retornara à condição de ex-administrador da mesa de rendas de Antonina, e de adido à Alfândega de Paranaguá. O “Noticiador” desta cidade, de 29 de abril, informa que foi prorrogada por 4 meses a sua licença do trabalho. Segundo a “História do Período Provincial do Paraná” já citada, o presidente da província, de 3 de maio de 1881 a 26 de janeiro de 1882, era Sancho de Barros Pimentel. Desta última data até 6 de março, exerce o cargo o vice-presidente Jesuíno Marcondes (87). Conforme edições do DD de janeiro de 1883 (88), constituiu-se uma comissão de 5 pessoas, nomeada pelo presidente da província Carlos de Carvalho, encarregada de “agenciar donativos para a construção de uma casa escolar” em Antonina. “A essa comissão será entregue o donativo de 500$000 feito por S.M. o Imperador quando dignou-se de visitar esta província”. TSG integra a referida comissão (assim como o cel Joaquim Alves de Araújo, presidente da Câmara Municipal de Antonina). No “Expediente da Presidência” de 15 de setembro, publicado no “Dezenove de Dezembro” (89), TSG, “membro da comissão escolar na cidade de Antonina”, é autorizado a recolher na caixa econômica da província a quantia de 150$ doados por uma companhia tauromáquica quando ali se achava em favor da casa escolar. Nessa caixa econômica já fora recolhida a soma que S.M. o Imperador doara com essa finalidade. O novo presidente da província Oliveira Bello (que assumiu em 17 de agosto, ou 3 de setembro, de 1883, após um curto período o comendador sucedendo o conforme a “História do Período Provincial” citada acima), no despacho, aproveita a oportunidade “para louvar e agradecer o zelo e dedicação que v.s.(TSG) tem mostrado no desempenho da comissão de que foi incumbido pelo meu antecessor”. No final do ano, esse presidente recebe manifestação de apoio por parte de Antonina. Em um ofício datado de 27.12.1883 encaminhado ao presidente Oliveira Bello, os 19 signatários (um deles, TSG) elogiam a ideia do presidente de instituir o ensino obrigatório. Informam que criaram uma associação “que concorrerá com o vestuário para os meninos indigentes e terá a honra de prestar a V. Exa. todo apoio na execução de tão útil medida” (90). TSG voltara a ocupar o cargo de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina. O DD de 30.06.1883, p. 4, informou sua nomeação (e a de Joaquim Procópio Pinto Chichorro como escrivão). Um pouco antes, em 26 de maio, assumira a presidência o vice-presidente Antônio Alves de Araújo, exercendo-a num curto período, anterior à posse do presidente Oliveira Bello. Paralelamente às suas atividades profissionais, públicas e privadas, TSG dedicava-se ao teatro, não só como ator mas também como autor de diversas peças. A mais elogiada delas – “Os Milagres de Nossa Senhora do Pilar” – foi encenada em março de 1884 (ver, no final deste trabalho, o capítulo intitulado “O dramaturgo Theophilo”). Em minhas pesquisas no Arquivo Público do Paraná, encontrei um ofício, datado de 29 de janeiro de 1884, assinado por TSG na condição de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina. Nesse ofício, TSG comunica ao Secretário Interino do Governo da Província que um carroceiro leva uma caixa que chegou do Rio de Janeiro, pelo vapor Rio Negro, para ser entregue naquela Secretaria. Ainda nesse final de janeiro, João Manoel Ribeiro Vianna, chefe da superintendência da 4ª circunscrição, de Antonina, relativa à instituição do ensino obrigatório, propõe em ofício ao presidente Oliveira Bello, a criação, na sua circunscrição, de 4 distritos, a cargo dos seguintes superintendentes: 1º distrito- Dr José Justino de Mello; 2º distrito- Major TSG; 3º distrito- Coronel Joaquim Alves de Araújo; 4º distrito- Dr Casimiro dos Reis Gomes e Silva. O ofício foi publicado no “Dezenove de Dezembro” (91). Em resposta a tal ofício, o presidente informa que, de acordo com sua proposta, nomeou os 4 nomes indicados (92). Numa edição de maio de 1884 (93) consta no DD edital da Mesa de Rendas de Antonina, assinado pelo administrador TSG. Ele comunica que as atribuições da repartição foram conferidas pelo decreto nº 7063, de 31.10.1878 no que se refere “ao despacho de gêneros estrangeiros sujeitos a direitos de consumo” e que a repartição é “habilitada para o comércio de importação direta” Em junho, o DD (94) informa que o presidente da província Oliveira Bello nomeou o comendador Joaquim Alves de Araújo, o tenente-coronel João Manoel Ribeiro Vianna, o major TSG e o capitão Benigno Augusto Pinheiro Lima para, em comissão, se encarregarem da construção de casas escolares na cidade de Antonina. A nota informa ainda que já existe quantia suficiente para dar-se começo a uma dessas casas. Em setembro, o DD (95), prosseguindo em suas matérias pró-abolição, registra este telegrama enviado de Antonina para o jornal pelo major TSG: “Reunião emancipadora animadíssima. 21 cartas de liberdade”. No mesmo DD, p.4, A. Soares Gomes (tio de TSG), agente da Companhia Nacional de Navegação em Antonina, “avisa que o vapor Rio Pardo passará para o norte, neste mês, a 26 e não a 31”. Ainda em setembro de 1884, o DD (96) refere-se a doações feitas recentemente ao Museu Paranaense. O major TSG doou: “o bico e pernas de uma grande ave aquática, uma moeda de prata dos Estados Unidos (one dime), duas moedas de cobre de Portugal, uma de Espanha, uma do Uruguai e uma do Brasil de 1882”. No DD de 1º de outubro (97), no Expediente da Presidência de 24 de setembro, consta despacho ao Inspetor da Tesouraria de Fazenda comunicando-lhe que o Ministério da Fazenda informou à presidência que foi indeferido “o recurso interposto pelo administrador da mesa de rendas de Antonina, Theophilo Soares Gomes, da decisão do tribunal do tesouro que o julgou obrigado a entrar com a quantia de 9:020$551, que perdeu, segundo alega, por caso de força maior /.../” O acidente ocorreu quando tal montante financeiro era levado, de Antonina a Paranaguá, por um funcionário de TSG cujo barco naufragou na baía de Paranaguá. Ele se salvou mas o dinheiro nunca foi encontrado. O assunto perdurará sendo abordado na imprensa durante vários anos. O “Dezenove de Dezembro” inicia 1885 arrolando os fatos mais importantes do ano anterior para a província (98). Dentre outros, são citados os seguintes: a chegada da locomotiva a Curitiba; a libertação de 300 escravos; a inauguração da escola Oliveira Bello; a colocação em execução do programa Ensino Obrigatório; a abertura de uma estrada de rodagem entre Porto União e Palmas; a inauguração da comunicação telegráfica de Guarapuava e Castro com Curitiba. A oposicionista “Gazeta Paranaense” é o novo nome de “O Paranaense” (continua inclusive sua numeração), sucedendo-o como “Órgão do Partido Conservador”. Sua edição de 9.02.1884, p. 3, transcreve matéria do “Echo dos Campos” em que Rocha Pombo critica os “mandões” de Palmeira, i.e. partidários de Jesuíno Marcondes. Ao longo de 1885, o jornal (99) publica diversas matérias contra TSG e os liberais. Assim, em 5 de janeiro, reproduz correspondência de Antonina, datada de 18.12.84 e assinada por “Chuviscos”. TSG, “administrador da mesa de rendas” da cidade é criticado por ter demitido, devido a motivação política, um modesto guarda daquela repartição, conservador, chamado Manoel Ribeiro Guimarães. Na véspera da eleição, segundo a matéria, TSG pediu à mãe deste, em sua própria casa, que o filho não fosse votar, porque ele seria mantido no emprego. Também o comendador Antônio Alves de Araújo, antes da votação, garantiu que ele não seria demitido. “Ontem”, porém, TSG chamou Guimarães e aconselhou-o a pedir demissão, “oferecendo-lhe ao mesmo tempo seus serviços” etc .Ante a recusa de Guimarães, TSG entendeu que era uma atitude política dele e o demitiu na mesma hora. A matéria refere-se à encenação de TSG com a mãe de Guimarães, ele que é “tão versado em assuntos dramáticos”, e também à atitude decepcionante do comendador Araújo, cuja palavra “deixou de merecer a confiança de seus amigos”. A matéria ainda questiona a nomeação do substituto de Guimarães ter mais de 40 anos, o que era contra a legislação vigente. A matéria conclui afirmando que no passado outro funcionário foi demitido por TSG “por ter dado vivas ao partido conservador e morras ao Sr João Vianna”, quando da derrota eleitoral deste. A “Gazeta Paranaense” prossegue criticando TSG e os liberais. Ainda em janeiro de 1885, no dia 24, sob o título “Os 10:000$000 ao mar?”, cobra de TSG o recolhimento aos cofres públicos daquele valor “que se diz perdido em viagem de Antonina para Paranaguá”, conforme já decidido pelo governo geral. Mas o governo provincial (presidido pelo liberal Brasílio Machado), “pactuando com os prevaricadores”, não manda TSG fazer tal recolhimento. A nota conclui assim: “Ainda são capazes de mandar o Sr. Theophilo à Europa com 30:000$000 para salvar-se desses apuros, a pretexto de introduzir a erva-mate”. No mês seguinte, na “Gazeta Paranaense” de 3.02.1885, nº 333, Suplemento, num balanço crítico da administração do presidente Brasílio Machado, lê-se o seguinte: “Em Antonina, teve igualmente demissão o Sr Manoel Guimarães, empregado da Mesa de Rendas, dirigida pelo homem dos 9:000$000 perdidos”. A matéria refere-se também à remoção de “D. Leocádia Rocha, professora da cidade de Antonina, para a vila de S. José da Boa Vista, não obstante ter consigo sua velha mãe que não pode, pela avançada idade, acompanhá-la, sendo o motivo desta remoção não ter querido a mesma professora prestar-se, conforme o desejo dos agentes do Sr. Brasílio, a pedir a seu cunhado Major Souza, nosso distinto correligionário, que se abstivesse de votar”. Na “Gazeta Paranaense” de 7 de março, matéria do correspondente em Antonina critica a situação política de lá e se refere ao “selvagismo que se assentou no meio de um povo” e a “indivíduos que constituíram-se em família, em família que fora um feudo”. A matéria critica o liberalismo e enaltece o partido Conservador de Antonina. Chama os liberais de selvagens: “esses selvagens, de mãos dadas com um sem número de sequazes, de desordeiros e vagabundos, atiram-se como feras no centro dos homens, no meio das famílias, e sem respeito às leis não trepidam em descarregar o golpe das suas armas, das armas do seu desprestígio, do desprestígio de sua política”. Em 28.06.1885, TSG é nomeado novamente administrador da Mesa de Rendas de Antonina pelo presidente da província, conforme a “Gazeta Paranaense” de 19 de setembro desse ano. O presidente era então o liberal Brasílio Machado de Oliveira, que se mantém no cargo até 21 de agosto, substituído pelos vice-presidentes Antônio Alves de Araújo e Joaquim de Almeida Faria Sobrinho. Este último, filiado ao partido Conservador, é quem transfere o governo ao presidente Taunay em 29.09.1885, segundo a “História do Período Provincial do Paraná”, op. cit, p.359, 369 e 379. TSG desta vez ocupa o cargo por menos de três meses, pois em 11 de setembro é demitido pelo presidente em exercício Faria Sobrinho. A fonte dessa informação é o editorial do DD de 19.09.1885, p.1, que contesta a legalidade de tal ato, pois só o governo geral poderia demitir TSG, que era “adido à alfândega de Paranaguá” (considerando a informação sobre a data da demissão, o período de exercício da presidência por parte de Faria Sobrinho deve ter sido maior do que o indicado na “História do Período Provincial”-- de 20 a 29 de setembro de 1885, uma vez que TSG foi demitido antes, em 11 de setembro, conforme o DD citado. Segundo a “Gazeta Paranaense” de 22.09.1885, p. 3, os liberais permaneceram 7 anos no governo; agora subiam os conservadores. De acordo com o jornal, edição de 3.2.1885, nº 333- Suplemento, estes foram os presidentes liberais do período: Rodrigo Otávio d’Oliveira Menezes, Manoel Pinto de Souza Dantas Filho, João José Pedrosa, Sancho de Barros Pimentel, Carlos Augusto de Carvalho, Luiz Alves Leite de Oliveira Bello e Brasílio Augusto de Oliveira Machado (sic, na realidade Brasílio Augusto Machado de Oliveira). Ainda em 1885, a “Gazeta Paranaense” de 21 de novembro, p. 2-3, informa sobre o debate na Assembleia Provincial “em 11 do corrente” entre os deputados Faria Sobrinho e Generoso Marques. Este criticou aquele pela decisão que tomou, quando no exercício da presidência, de demitir TSG do cargo de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, o que só poderia ser feito pelo Ministro da Fazenda, porque TSG era “um empregado da Fazenda geral”. TSG foi nomeado para esse cargo pelo presidente (liberal) Rodrigo Otávio por ato de 28.09.1878. Faria Sobrinho defendeu a legalidade da decisão que tomou, entendendo que o decreto nº 8912, de 24.03.1883, revogou o decreto nº 7063, de 31.10.1878. Ademais, o Comendador Araújo, quando no exercício da presidência (ele a exerceu, pela primeira vez, de 26.05.1883 a 17.08.1883 ou 3.09.1883), nomeou TSG para esse cargo. Se foi nomeado pela presidência, também podia ser por ela demitido, argumenta. Mas havia dúvidas quanto à revogação do decreto de 1878 pelo de 1883 (isso fora objeto de uma consulta da Tesouraria de Fazenda, ainda não respondida) e sobre a condição de TSG, se subordinado ao Ministério da Fazenda ou à presidência da província. Nesse mesmo ano de 1885, também o oposicionista “Futuro”, de Paranaguá, publicou matérias contrárias a TSG. Em maio, o periódico (100), dirigindo-se ao Ministro da Fazenda, Inspetor da Tesouraria do Paraná e Inspetor da Alfândega, questiona o fato de que o Administrador de Rendas de Antonina continue no cargo, já que não é empregado fazendário. Segundo o “Futuro”, ele foi nomeado pelo presidente da Província só porque pertence ao partido dominante. De acordo com a nota, o Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, pela legislação, devia ser escolhido pelo Inspetor da Alfândega de Paranaguá (a Mesa está subordinada à Alfândega), com aprovação da Tesouraria de Fazenda. Esses cargos -- o de administrador e o de escrivão -- deviam ser preenchidos por empregado da Alfândega de Paranaguá. A nota questiona seus “vencimentos enormes”, pois “além do vencimento do emprego que tiverem”, recebem gratificação mensal de 100$ (o administrador) e 50$.(o escrivão). Em outra matéria crítica, de junho do mesmo ano, o “Futuro” (101) identifica os ocupantes desses cargos. São respectivamente TSG e Pinto Chichorro. Na p. 1 se informa que a “situação liberal” no governo geral já domina há 8 anos. Em outra edição, no mesmo mês, o “Futuro” (102) publica nova nota (de Antonina) contra TSG (sem citar seu nome). Apoia-se agora numa circular recente do Ministério da Fazenda, que prevê a demissão de exatores “alcançados”. Pergunta-se qual será a informação que dará a Tesouraria de Fazenda do Paraná relativamente ao Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, “que se acha alcançado para com a Fazenda Pública em nove contos e tantos há perto de dois anos, e ainda se conserva no lugar. Esse Empregado, apesar de ter recorrido a quanto Tribunal há, e de serem indeferidos os seus recursos com ordens terminantes de indenizar os cofres .públicos, até hoje ainda não satisfez à Fazenda!”. Ainda em junho de 1885, consta outra matéria crítica em “Futuro” (103) dirigida ao Inspetor da Tesouraria de Fazenda e ao Inspetor da Alfândega. Pergunta-se aí qual é a lei em que se funda seu consentimento ao fato de que o Sr. José Maria da Costa exerça o cargo de administrador da Mesa de Rendas na qualidade de agente do Sr. TSG (este é o “chefe” da repartição). E em 26 de setembro do mesmo ano, p. 2-3, o “Futuro” transcreve esta mensagem do governo geral ao governo provincial: “Governo Geral- cópia- Ministério dos Negócios da Fazenda. Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1885. Ilmo e Exmo. Sr.- Comunico a V.Exa. que não pode ser atendido o requerimento transmitido com o seu ofício nº 14, de 11 de junho deste ano, em que o administrador da mesa de rendas de Antonina, Theophilo Soares Gomes, pede a concessão de um prazo para indenizar a Fazenda Nacional da quantia de 9:020$520, perdida na baía de Paranaguá; visto já ter sido essa pretensão indeferida por despacho de 16/10/1884. F. Belizario Soares de Souza”. Ainda conforme o “Futuro” (104) quem nomeou TSG e Chichorro para os lugares da Mesa de Rendas de Antonina foi o Comendador Araújo, baseado no decreto 8912, de 24.03.1883. Em maio, o DD informa que TSG foi promovido a tenente-coronel da Guarda Nacional. Depois, no final de julho, publica despacho do secretário do governo provincial ao tenente-coronel TSG, informando-o “achar-se nesta repartição a carta patente pela qual foi s.s. nomeado tenente coronel comandante do 4º batalhão de reserva da guarda nacional da comarca de Antonina”. (105). No “Expediente da Presidência” de 15 de julho de 1885, publicado no DD (106), despacho dirigido ao major TSG, em resposta ao seu ofício de 21 de junho, declara que foram recebidos “os volumes contendo diversos espécimens dos produtos naturais e artefatos, e 21 qualidades de madeiras que agenciou para figurarem na exposição de Antuérpia”. A presidência agradece o serviço que prestou à província. Em 12 de setembro o DD (107) critica o novo presidente da Província (presidente Faria, na realidade 1º vice-presidente), pela “derrubada” que promove do funcionalismo. Foram demitidos, dentre outros, o tenente-coronel TSG e Joaquim Procópio Pinto Chichorro, administrador e escrivão da mesa de rendas de Antonina. O editorial do jornal (liberal) do dia 15 (108) critica o presidente Faria por ter demitido o “nosso amigo” tenente coronel TSG. A matéria afirma que o presidente exorbitou de sua competência, pois de acordo com o decreto nº 7.063, de 31.10.1878, a Mesa de Rendas de Antonina é dependente da Alfândega de Paranaguá, e seus empregados estão subordinados ao Inspetor dessa Alfândega. TSG é “adido à alfândega” e “só demissível pelo respectivo ministério”. O editorial da edição do DD de 19 de setembro (109) reafirma essa opinião: o vice-presidente não poderia demitir TSG. Só o governo geral poderia demiti-lo, uma vez que TSG era “adido à alfândega de Paranaguá”. Mas o assunto é controvertido. Para os conservadores, pelo decreto nº 8.912, de 24.03.1883. a competência de nomeação teria passado ao presidente da província. Segundo o DD de 15.09.1885, p.2, a Assembleia Geral da Câmara dos Deputados decidiu que o tenente-coronel TSG, administrador da mesa de rendas de Antonina, seja “relevado de entrar para os cofres públicos com a quantia de que trata o aviso nº 86, de 24.11.1883” (TSG havia feito tal solicitação em requerimento à Câmara dos Deputados. Pediu “relevação de entrar para os cofres públicos com a quantia de 9:020$551, caídos e submergidos na baía de Paranaguá”). Nota no DD (110) informa que se realizou em Antonina, no dia 20 de setembro, uma reunião do partido Liberal na casa do cel Joaquim Alves de Araújo, à qual concorreu grande número de correligionários. Um diretório de 7 membros foi constituído para tratar dos interesses do partido. O tenente-coronel TSG é um de seus integrantes.. É citado depois do coronel Joaquim e do comendador João Manoel Ribeiro Vianna. Por essa nota, verifica-se que o presidente Faria estava sob a influência do deputado Manoel Euphrasio, do partido Conservador. O outro deputado paranaense à Câmara Nacional era Manoel Alves de Araújo, do partido Liberal. Informa o DD, ainda em setembro de 1885 (111), que os “nossos amigos” tenente-cel TSG e Benigno A. Pinheiro Lima “pediram demissão dos lugares de superintendentes do ensino obrigatório da cidade de Antonina”. Isso era, certamente, consequência da mudança dos ventos políticos, a favor agora do barco conservador.... No DD de 4.10.1885, p. 2-3, consta matéria, em “Ineditoriais”, em que o caso da demissão de TSG do cargo de administrador da Mesa de Rendas de Antonina é abordado. O autor do artigo (“S”) afirma que o presidente Faria precisava “pagar uma dívida” com Euphrasio Correa ao nomear para o cargo Joaquim Barnabé de Linhares,“estranho à alfândega de Paranaguá”. No DD do dia 9 (112) consta matéria intitulada “O Sr. Munhoz”. Trata-se de Alfredo C. Munhoz, membro de um governo conservador, o qual destituiu TSG do cargo de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, assim como seu escrivão. Munhoz não ignora a legislação (sabe que o decreto 8912/83 não revogou o decreto 7063/78) mas “tudo procura escurecer a fim de colocar na mesa de rendas dois protegidos do seu novo patrão” (TSG, que era ligado ao partido Liberal, estava assim, politicamente, em campo oposto a Alfredo Munhoz, cujo irmão, Florêncio, era marido de Julieta, meia-irmã de TSG. Florêncio (meu bisavô), inclusive, chegou a ser perseguido politicamente pelo presidente liberal Brasílio Machado de Oliveira). Generoso Marques, conforme uma edição do DD de outubro de 1885 (113) fez discurso na Assembleia Provincial em que aborda a questão da demissão do administrador e escrivão da Mesa de Rendas de Antonina. Segundo ele, baseado no art. 6º do decreto nº 7063, de 31.10.1878, aprovado pela lei nº 327, de 28.09.1885, ambos os cargos devem ser ocupados por empregados da alfândega de Paranaguá.. Em novembro o jornal (114) publica extrato do discurso do dep. Generoso Marques, relativo à demissão de TSG. Ele diz aí: “O vice-presidente, no furor da derrubada, demitiu um empregado da fazenda geral, que só pelo ministro da fazenda podia ser demitido”. Por “vice-presidente” ele se refere ao presidente Faria, que estava no exercício da presidência da província. Ainda em novembro de 1885, outra edição do DD (115), informa que também o dep. Emygdio Westphalen, em discurso na Assembleia Provincial, referiu-se a TSG e à sua demissão ilegal do cargo de administrador de rendas de Antonina. O espaço do editorial do DD de 21.10.1885, p. 1, é ocupado por matéria intitulada “Cartas de São Paulo”, assinada por Cunha Brito, em que critica os políticos do partido Conservador, especialmente as demissões nos governos provinciais. A certa altura o autor afirma: “Não foi sem grande constrangimento que eu o vi (um comprovinciano /.../ na administração provincial), de desatino em desatino, /.../ exorbitando das suas atribuições, chegando o seu arrojo ao ponto de arvorar-se em ministro da fazenda, para lavrar demissões que só por este podiam ser feitas”. Em meados de 1886, o DD publica uma nota com informações interessantes que ajudam a caracterizar a Antonina de TSG. A cidade possuía então 331 prédios, sendo 25 sobrados e 306 térreos; 165 prédios eram ocupados pelos proprietários e 166, por locatários (116). Também em 1886,o DD de 16 de maio, p. 2, publica matéria assinada por TSG em que censura João Timotheo de Paula por ter “aparecido na ‘Gazeta’ de 11 do corrente com a publicação de uma peça policial que apenas depõe contra si”. O nome de TSG é citado na publicação e para ele houve a “intenção de fazer de mim um vil detrator ou coisa semelhante”. Timotheo, pelo que se depreende da nota, está envolvido num processo de estupro. TSG faz publicar na mesma matéria carta de Manoel Gonçalves de Oliveira Motta (datada de “Antonina, 11 de maio de 1886”) em que este afirma que TSG, a pedido da caseira de Manoel (Francisca Maria de Jesus), comunicou-lhe o ocorrido com a sua (de Manoel) tutelada Margarida (que era órfã), “pedindo-me que não desse escândalo, e procurasse com calma remediar o mal, entendendo-me particularmente com João Timotheo”. Na oposicionista “Gazeta Paranaense” (“Órgão do Partido Conservador”) de 20.05.1886, p. 2-3, consta em “A pedido” matéria de Antonina assinada por João Timotheo de Paula contra TSG. Critica-o pela matéria contida na edição do DD de 16 de maio (v. acima). João Timotheo informa publicamente a “aleivosa imputação que sobre mim se procurou atirar” (a de deflorador da menor Margarida, tutelada de Manoel Gonçalves de Oliveira Motta) (117) Manoel Gonçalves tem 40 anos, vive com uma mulher há 12 anos (sua “cozinheira”). Alguns dias depois, a “Gazeta Paranaense” (118) volta a abordar o assunto e a criticar o DD, “que aceita toda e qualquer publicação”. João Timotheo se defende da acusação anexando à matéria atestados sobre sua conduta “irrepreensível”, e levanta suspeitas sobre Manoel Gonçalves que vive amasiado, afirmando que Margarida apareceu grávida, “em estado muito adiantado”, em casa de seu tutor. A razão básica dessa discussão é política. O liberal DD quer prejudicar o conservador João Timotheo, que tem pretensão ao 2º Tabelionato de Antonina, para favorecer o seu candidato. Cf também a “Gazeta Paranaense” de 27.05.1886, p. 3: João Timotheo afirma aí que tudo estaria bem com ele se não tivesse cometido o “crime” de candidatar-se ao 2º Tabelionato. Cf ainda a “Gazeta Paranaense” de 28.05.1886, p. 2 e de 29.05.1886, p.3, que conclui a matéria intitulada “O Dezenove de Dezembro e João Timotheo de Paula” Informação adicional desta última edição: Margarida é citada como ”ingênua” e “filha da escrava Eva”. “Ingênua” significa já nascida livre da escravidão, beneficiada pela Lei do Ventre Livre, de 1871 (119). Uma nota reveladora da política mesquinha que se praticava (ou se pratica ainda) no interior do país foi publicada numa edição do DD de outubro de 1886 (120). Segundo o jornal, o “inspetor paroquial” prejudica uma professora em Antonina porque ela é filha de um “amigo” do DD (i.e., trata-se de um liberal). Suspendeu-lhe o pagamento dos vencimentos porque sua escola teria apenas 8 alunos, mas os pais dos alunos encaminharam abaixo-assinado demonstrando que a escola tem, na realidade, 26 alunos. De qualquer forma, a legislação prevê não suspensão mas redução proporcional dos vencimentos quando o número de alunos da escola for inferior a 10 (nos bairros). A nota informa ainda que o “inspetor paroquial” tem candidato para o lugar daquela professora, que se chamava Maximiama de Carvalho Castanho. No mês seguinte, consta matéria no DD (121) enviada de Antonina e datada de 1º de novembro de 1886. O correspondente trata da inauguração festiva de um “engenho modelo para o preparo de arroz”, de propriedade do comendador João Manoel Ribeiro Vianna. Seu “incansável” administrador é o tenente-coronel TSG. Segundo a matéria, esse deve ser o quarto engenho que se estabelece no Brasil, com mecanismos do “afamado” construtor italiano Leocarni di Vercelli (há um em Vassouras, outro em Iguape e um terceiro em S.Francisco-SC). João Vianna, o proprietário do engenho referido acima, era então um dos deputados à Assembleia Provincial (122). Várias matérias do DD dessa época referem-se ao sogro (do 1º casamento) de TSG, o engenheiro civil Fanor Cumplido. Na mesma edição do DD mencionada na nota 122, p. 2, é publicada nota sobre sua proposta à Assembleia Provincial. Ele requer “garantia de juros de 7% sobre o capital de 500.000$000 durante 20 anos, a fim de poder levar a efeito a fundação de um engenho central para a extração dos produtos da cana de açúcar no município de Antonina”. A presidência da Assembleia Provincial sancionou decreto autorizando o governo a conceder a Fanor Cumplido tal garantia de juros (123). No princípio do ano seguinte, 1887, no DD de 8 de janeiro, p. 1, consta que Fanor Cumplido assinou no dia anterior “o contrato que garante juros à empresa que vai fundar na cidade de Antonina, um engenho central para extração de produtos da cana de açúcar”. Em 1º de fevereiro, o DD (124) publica o projeto de lei proposto pelas Comissões reunidas de Indústria e Fazenda da Assembleia Provincial sobre o requerimento de Fanor Cumplido. O art. 1º autoriza o governo da província a lhe conceder a garantia de juros solicitada para o capital de até 500:000$. Uma informação adicional que aí consta é que o engenho que vai extrair produtos da cana de açúcar terá capacidade para moer 30 milhões de kg de cana. Mais tarde, no mesmo ano, o DD (125) refere-se a outro exemplo da atividade empreendedora de Fanor Cumplido. Ele foi autorizado a introduzir 200 famílias de agricultores europeus em pequenos núcleos coloniais no município de Antonina. Quase dois anos mais tarde, consta no DD (126) que o engenheiro civil Fanor Cumplido “obrigou-se, mediante contrato com o ministério da Agricultura, a estabelecer em terrenos de sua propriedade um núcleo colonial onde colocará pelo menos 300 famílias de imigrantes”. Logo depois, quando o DD iniciou a publicação do referido contrato (127), ficamos sabendo que tais terrenos de Fanor Cumplido situavam-se no vale do rio Cachoeira no município de Antonina. Bem no final de 1887, o DD de 21 de dezembro, p. 1, informa que o periódico “O Labor”, de Antonina, é “redigido pelos Drs. Passos e Pedro Moreira e tenente-coronel Theophilo Gomes”. Em 1888 Fanor Cumplido pediu modificação do contrato estabelecido com o governo provincial. A ata da 33ª sessão ordinária da Assembleia Provincial realizada em 4.09.1888, publicada depois no DD (128), registra a entrada de um requerimento de Fanor Cumplido “pedindo modificação do contrato que assinou para a construção de um engenho, bem como prorrogação da cláusula 5ª do contrato por 15 meses.” Com relação a esse assunto, o deputado João Vianna mandou à mesa um aditivo autorizando o governo “a modificar, de acordo com o concessionário, a cláusula 1ª do contrato celebrado com o engenheiro Fanor Cumplido para a construção de um engenho central de açúcar no município de Antonina, permitindo a fundação de dois engenhos em vez de um, com a mesma capacidade total e sem aumento de ônus para a província; podendo prorrogar por mais 15 meses o prazo da cláusula 5ª do mesmo contrato”. Um parágrafo desse aditivo dispõe ainda que “Um dos engenhos poderá ser construído em qualquer dos municípios do litoral, onde o concessionário julgar mais conveniente”. O projeto e seu aditivo foram aprovados. Um ano mais tarde, o DD volta a mencionar esse projeto. O jornal (129) publica telegrama de Fanor Cumplido (do Rio) ao presidente da província informando-o de que foi “concluído (o) levantamento (de) capitais (para os) engenhos centrais, capacidade 50.000 sacos; custarão 1000 contos. Paraná livre na importação açúcar, consumo capitalizará 600 contos anualmente”. No DD de 17.10.1888, p. 2, consta matéria (baseada na “Gazeta da Tarde” de 9.10.1888) sobre o debate na Câmara dos Deputados entre o político baiano Araújo Góes e Alves de Araújo, relativamente ao tema da Ordem do Dia: “Discussão do projeto nº 63, relevando o major Theophilo S. Gomes,da mesa de rendas de Antonina, do pagamento da quantia de 9:020$551”. Araújo Góes propôs que o projeto nº 63 voltasse à comissão de fazenda para dar parecer. Alves de Araújo “impugna o requerido”. “Defende o administrador da mesa de rendas de Antonina”. A matéria conclui informando que a discussão foi adiada. Depois, o DD de 20.10.1888, p. 1, publica nota intitulada “Câmara dos Deputados” chamando a atenção dos leitores para a transcrição que o jornal faz nesta edição da discussão havida na Câmara acerca da responsabilidade de TSG pelo extravio da quantia de 9:020$551. Na p. 3 dessa mesma edição do DD, o jornal transcreve matéria do “Diário Oficial” de 10.10.1888 que aborda a 1ª discussão na Câmara dos Deputados do projeto nº 63 de 1885, que releva TSG de entrar para os cofres públicos com a quantia de 9:020$551 réis, de que trata o aviso nº 86 de 24.11.1883. O deputado Araújo Góes quer que o projeto nº 63 volte à Comissão de Fazenda para ter novo parecer. Mas dois dos três membros dessa Comissão foram favoráveis ao projeto. Também o dep. (Manoel) Alves de Araújo o defende, pois o parecer da comissão de fazenda baseou-se em outro parecer, o da Tesouraria da província do Paraná, destacando que os funcionários que informaram são adversários políticos de TSG—“o Sr Ermelino de Leão, desembargador da Bahia”; “o Sr. Munhoz, inspetor da Tesouraria” e “o Sr. Lagos, procurador da Fazenda Pública”, “pessoas todas de confiança do governo conservador”. Alves de Araújo relata “o fato que deu lugar a toda essa discussão”: “A tesouraria de fazenda deu ordem à mesa de rendas de Antonina para mandar os saldos à alfândega de Paranaguá. A viagem de um porto para outro faz-se em botes; em uma destas viagens o empregado levava 9:020$, mas teve necessidade de ir à proa, e nessa ocasião caiu. Foi ao fundo, e com dificuldade se salvou mas o embrulho do dinheiro que ele tinha no bolso desapareceu apesar das maiores pesquisas que se fizeram”. Esse empregado que transportava o dinheiro era o guarda de alfândega Floriano José Martins. No âmbito do Executivo (Ministro da Fazenda, Conselho de Estado) reconheceu-se “não haver a menor suspeita de criminalidade”. Mas o assunto deve ser resolvido pelo Poder Legislativo (por isso foi para aí encaminhado). A imprensa do Rio de Janeiro tratou da questão. Houve exploração política do episódio (pois contrapunha liberais e conservadores). Insinuou-se que TSG ficou com os 9:000$ em seu poder, entregando um embrulho de papeis sujos, mas Alves de Araújo faz o elogio de sua honestidade. TSG, por seis (sete?: a leitura está prejudicada no original- DvE) anos (130) “exerceu o lugar de administrador da mesa de rendas com a mais rigorosa fiscalização e honestidade /.../ em uma ocasião teve já em seu poder a quantia de 200:000$ que lhe foi entregue para fazer seguir para Curitiba". Deputados afirmaram no debate que mesmo que não haja responsabilidade criminal de TSG, há responsabilidade civil e assim ele deve fazer o ressarcimento daquela importância. Joaquim Nabuco diz que não é isso que está em questão. Diz também que “O contribuinte pode aceitar essa despesa se achar que é de interesse público”. A discussão ficou adiada. O “Sete de Março” de outubro de 1888 (131) também aborda a questão. Ele afirma que entrou em discussão na sessão de 9 do corrente da Câmara dos Deputados o projeto que releva o major TSG, ex-administrador da Mesa de Rendas de Antonina, do pagamento de 9:020$551. Segundo um deputado do Piauí “o indivíduo não é criminoso, mas a responsabilidade ele a tem”. Seis meses mais tarde, o assunto ainda estava pendente na Câmara dos Deputados. Em seus “Annaes”, relativos à sessão preparatória de 27 de abril de 1889 (conforme o site da Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira) consta este registro, sob o título (Projetos) Remetidos às comissões e pendentes de parecer: -Relevação a Theophilo Soares Gomes, administrador da Mesa de Rendas de Antonina, de entrar para os cofres públicos com a quantia de 9:020$351. No final de 1888, em dezembro, a “Gazeta Ilustrada”, editada em Curitiba, publica matéria sobre o engenho de arroz em Antonina, propriedade de TSG, “ativo, probo e inteligente industrial” (ele contava então 34 anos de idade). Inclui gravuras, não só do engenho mas também de seu proprietário. O engenho “é o primeiro e único em seu gênero que existe nesta província”. Ocupa um “vastíssimo edifício”. As máquinas são italianas. O engenho “beneficia 20.000 sacas de arroz anualmente, que são exportadas, em sua maior parte, para a corte. Ocupa 18 operários, 1 guarda-livros e 1 ajudante de escritório. É enorme o capital ali empregado, e são reais os benefícios prestados por aquele estabelecimento aos lavradores de Paranaguá, Antonina e S. Francisco, já suprindo-lhes a planta e adiantando-lhes dinheiro para as despesas do plantio e colheita, já comprando o arroz por bom preço” (132).. Havia assim tal relação de dependência entre os lavradores da região, paranaenses e catarinenses, e o engenho de arroz de TSG. No número anterior dessa mesma publicação, consta artigo de TSG sobre Narciso Figueras, proprietário da Litografia do Comércio, situada na rua do Riachuelo, 29, em Curitiba, que editava a revista. Salienta a importância da empresa desse catalão (“já experiente litógrafo em Barcelona”, segundo o “Dicionário Histórico-Biográfico do Paraná”). Theophilo revela aí as suas convicções contrárias ao espiritismo do amigo (133). O ano de 1889, o último do Império, principia festivamente em Antonina. Uma edição do DD de janeiro desse ano (134) publica longa matéria na seção “Correspondência” datada assim—“Antonina, 8 de janeiro de 1889”, sobre as manifestações de júbilo na cidade “pela celebração de contrato entre o governo e a companhia francesa ‘Chemins de Fer’ para a construção do ramal ferroviário de Morretes a Antonina” e prolongamento da linha de Curitiba ao centro da província. A matéria enaltece a atuação do conselheiro Manoel Alves de Araújo em prol da província do Paraná, e refere-se aos elogios a ele feitos por TSG e outras lideranças, cujas residências foram locais de parada or ocasião da marcha dos manifestantes pela cidade, que seguia uma banda de música e dava vivas a Manoel Alves de Araújo. A passeata terminou às 12 horas da noite. Em Curitiba, no mês de junho de 1889, como se verá adiante (cf cap. VIII- “O dramaturgo Theophilo”) foi encenado, com sucesso, no teatro São Theodoro (antigo nome do teatro Guaíra), a peça “Os Milagres de Nossa Senhora do Pilar”, de TSG. Também em junho ocorreu um evento social importante para Antonina. Segundo o DD (135), no dia 21 seguiu em trem especial de Curitiba para aquela cidade o presidente da província Jesuíno Marcondes e família, o conselheiro Alves de Araújo e família, o Dr. Generoso Marques e outros. Desceram na estação de Morretes, festejados com foguetes e banda de música, e aí almoçaram. À tarde, seguiram para Antonina. Foram recebidos em casa de TSG por ele e sua família, pelo Dr. Lamenha Lins, tenente-coronel João Vianna, juiz de direito, juiz municipal e outras pessoas. À noite, banda de música se apresentou na frente da casa de TSG, onde se hospedaram o conselheiro Jesuíno e família. No dia seguinte, à noite, nessa mesma residência, teve lugar o casamento de Ricardo Guimarães com Aurora Cumplido Guimarães, filha do Dr. Fanor Cumplido, “cunhada daquele nosso amigo” (TSG) e sobrinha de Jesuíno. TSG foi um dos quatro padrinhos escolhidos (ele foi padrinho da noiva). Finda a cerimônia religiosa, TSG serviu um banquete aos convidados. Também o sogro (do 1º casamento) de TSG se casaria novamente. Mas não em Antonina e sim no Rio de Janeiro. Uma edição do DD de outubro de 1889 (136) informa que o tenente-coronel TSG foi padrinho da noiva do Dr. Fanor Cumplido no casamento deste com D. Leonor Conceição Silva, irmã dos srs. Arthur e Arlindo de Souza Gomes, negociantes no Rio de Janeiro. O casamento foi realizado nessa cidade, na matriz da Glória. Alguns dias depois, o DD (137) noticia a chegada a Curitiba do Dr. Fanor Cumplido. Na gare da estrada de ferro, ele foi recebido por amigos, inclusive o conselheiro Jesuíno Marcondes. No governo de Jesuíno Marcondes, o último da província no tempo do Império, TSG volta a ocupar o cargo de administrador da Mesa de Rendas de Antonina. O DD de 4.07.1889, p. 1, informa que foram exonerados os ocupantes desse cargo e o de escrivão, e restabelecido nesta repartição pública o regime do decreto nº 7063, de 31.10.1878, continuando TSG como adido à alfândega de Paranaguá. O despacho do presidente da Província adotando essas medidas é publicado no DD (138). Logo depois, na edição de 8.07.1889, p. 1, do jornal consta o despacho do presidente à Tesouraria de Fazenda “para que se mande dar pela alfândega de Paranaguá imediata execução” das medidas em questão. Nesse mesmo DD, p. 1, uma nota informa que foram designados pela inspetoria da alfândega de Paranaguá “para servirem na mesa de rendas da cidade de Antonina como administrador o tenente-coronel Theophilo Soares Gomes e como escrivão o cidadão Elísio de Siqueira Pereira Alves“.

V. COMEÇA A REPÚBLICA E A CARREIRA POLÍTICA DE THEOPHILO

TSG contava 35 anos em 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a República pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Os liberais – apoiados por TSG e o clã familiar ao qual se vinculava -- estavam então no poder. Jesuíno Marcondes, nessa data, deixa a presidência da Província do Paraná, sendo substituído pelo marechal Francisco José Cardoso Júnior, que assume a chefia do governo provisório (139). O historiador Ermelino de Leão, em seu “Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná”, faz este interessante comentário envolvendo o comendador Henrique Alves de Araújo, TSG, seu genro (pelo segundo casamento) e Jesuíno Marcondes, caracterizando-os como investidores naquela época do início da República conhecida como “encilhamento”: “O Coronel Henrique Alves de Araújo, depois de proclamada a República, retirou-se para S. Paulo em companhia do Conselheiro Jesuíno Marcondes e do seu genro Cel. Teófilo Soares Gomes. Aí, na época do encilhamento, jogando na Bolsa, adquiriu avultada fortuna invertida em títulos de companhias e empresas, como os seus parentes citados. Recordo-me que o Conselheiro Marcondes, pressentindo a proximidade do “crac”, resolveu converter em dinheiro e em ouro todos os seus títulos e retirar-se, com a família, para a Suíça. Muito insistiu ele com o Comdor. Henrique e com o Cel. Teófilo Soares Gomes para que o imitassem. A voragem da Bolsa havia, porém, atraído os dois amigos e parentes com a miragem de fabulosas riquezas: ambos ficaram em S. Paulo. Pouco depois a previsão do Conselheiro Jesuíno se tornava realidade: os títulos da bolsa caíam vertiginosamente /.../. O Comendador Henrique Alves de Araújo voltou para o Paraná, dedicando-se novamente à indústria pastoril, falecendo em Curitiba /.../ ” (140). Em 1890, segundo informações do jornal “A República”, TSG continuava vinculado profissionalmente à Alfândega de Paranaguá, da qual se licencia, conforme autorização do governador do Estado, em janeiro desse ano (141). Mas, paralelamente, ele desenvolve atividades privadas, pois em 22 de setembro outro despacho do governador atende requerimento seu, concedendo-lhe isenção dos impostos de importação do Estado, e também os de exportação, por 5 anos, “como meio de animar a indústria” (142). Duas semanas mais tarde, matéria do mesmo jornal nos permite entender melhor a razão desses benefícios fiscais. Publica-se aí, na íntegra, um contrato celebrado entre TSG e o Tesouro do Estado. Manoel Soares Gomes (seu pai) é o procurador de TSG. O contrato foi celebrado em 2.10.1890 e visa “a montagem de uma fábrica de tecer panos de algodão no município de Antonina” (TSG deve montá-la em dois anos, a partir daquela data). O contrato prevê a isenção de impostos estaduais por 15 anos “para importação da matéria-prima, máquinas e acessórios de sua indústria e por 5 anos para a exportação dos produtos da mesma” (143). Paralelamente às suas atividades profissionais, como funcionário público e empreendedor privado, TSG fazia política. Nesse ano de 1890 integrava um grupo de personalidades locais que formaram um partido político, de oposição ao de Vicente Machado, conforme informa uma coluna publicada em “O Dia” (144), sob o título “Biografias paranistas”. O biografado é Manoel Correa Defreitas (1853-1933), pregador da república e da abolição. Afirma-se aÍ: “Em 1890, com Generoso Marques, Cardoso Júnior, Silveira da Mota, José Pacheco dos Santos Lima, Emygdio Westphalen, Menezes Dória, Theophilo Soares Gomes, Chichorro Júnior, Telêmaco Borba, Celestino Júnior, José Gonçalves Lobo e outros elementos de diversos matizes partidários, congregou a ‘União Republicana’ de oposição ao ‘Partido Republicano Paranaense’, organizado e presidido por Vicente Machado”. Segundo Sebastião Paraná, em 19 de abril de 1891 TSG foi eleito deputado ao Congresso Legislativo do Paraná (145). Essa foi a primeira de uma série de outras eleições de que participou, eleições essas com as características próprias daquelas que ocorriam na República Velha, em que pesava muito a influência das oligarquias familiares, de que se beneficiou TSG. Ele inicia assim, aos 37 anos, sua longa carreira política, que se estenderá por quatro décadas, até a revolução de 1930, que dá fim a um ciclo da nossa história republicana. De acordo com a “História do Paraná” de Balhana et al. (Grafipar) (146), as eleições foram realizadas em 10 de abril de 1891, e não no dia 19. Conforme a “História Política da Assembleia Legislativa do Paraná” (147), e outras fontes, nas eleições antes mencionadas, Generoso Marques dos Santos foi eleito presidente do Estado e J.I. Silveira da Mota, vice-presidente. Dispunha decreto do Marechal Deodoro que o novo Congresso estadual também tinha função constituinte. Assim, promulgou a Constituição paranaense em 4 de julho de 1891. O Coronel TSG era o 3º vice-presidente desse “Congresso Constituinte e Legislativo”, presidido pelo Dr. João de Menezes Dória (ambos teriam um papel relevante por ocasião da Revolução Federalista no Paraná, como se verá no próximo capítulo). No período pré-eleitoral, o “Diário do Comércio” de Curitiba, ano 1, nº 42, edição de 21 de fevereiro de 1891 (e em outras edições) publica o texto “Ao eleitorado do estado do Paraná” em que alguns políticos importantes como Generoso Marques dos Santos, General Francisco José Cardoso Júnior, Barão de Guaraúna e outros recomendam a chapa da “União Republicana” que contém candidatos a deputado nas próximas eleições para o Congresso do Paraná a realizar-se em 10 de abril. Dentre os nomes arrolados de candidatos consta o de TSG, “negociante, residente em Antonina”, e o de Joaquim Soares Gomes, seu tio, “negociante, residente em Paranaguá”. Nessa edição, o jornal, que é propriedade da Companhia Impressora Paranaense e tem como redator Leôncio Correia, critica Vicente Machado, de “A República”, por atacar o General governador do Estado. Mas o jornal também publica a outra chapa, recomendada por Ubaldino do Amaral Fontoura, Santos Andrade, Barão do Serro Azul, Vicente Machado etc... Em abril de 1891, no dia 25, o “Diário do Comércio” publica o resultado da votação para deputados ao Congresso Legislativo estadual, realizada alguns dias antes, naquele mesmo mês (no dia 10, como vimos), salientando que ainda falta a apuração de algumas seções do interior “que não alteram o resultado”. É apresentada uma lista de 36 nomes em ordem decrescente de votos. TSG situou-se em 30º lugar, com 6193 votos, e Joaquim Soares Gomes em 16º com 6254. Nessa lista, Generoso Marques situou-se em 4º lugar com 6438 votos, Telêmaco Borba em 20º com 6241 e Menezes Dória em 28º com 6201. Após os 36 nomes, constam ainda outros candidatos e a votação que receberam. Vicente Machado aí incluído recebeu 4776 votos, mostrando que a corrente republicana liderada por Generoso Marques era então a mais forte. Note-se que inclusive TSG e seu tio tiveram mais votos que Vicente Machado, cuja importância política aumentaria com a passagem do tempo, chegando a ocupar a presidência do Estado. No “Diário do Commercio” de 8.05.1891, nº 103, ano I, p. 3, o general Francisco José Cardoso Jr, presidente da Intendência Municipal da cidade de Curitiba, divulga em edital os resultados da eleição dos deputados à Assembleia Constituinte e Legislativa do Estado realizada em 10 de abril próximo passado. Foram diplomados os 36 mais votados, um deles TSG, com 6738 votos (32º lugar). Outro, Joaquim Soares Gomes, que obteve6832 votos (14º lugar). O mais votado obteve 11.444, e o 36º, 6688. Vicente Machado consta mais abaixo, com 5136 votos. Nesse mesmo jornal--“Diário do Commercio” de 20.04.1891, nº 88, ano I, p. 3, na coluna “Telegramas” (“Rio, 20”) -- consta que foi demitido o coronel comandante superior da Guarda Nacional de Antonina Joaquim A. de Loyola e nomeado para substituí-lo TSG. Assim, o deputado recém-eleito também assume o comando dessa instituição em seu município. A interação da Guarda Nacional com a vida política de então é um fenômeno típico da República Velha. Mas o início do período republicano não ocorre tranquilamente. Em 3 de novembro de 1891, Deodoro dissolve o Congresso Nacional. Quase todos os governadores dos estados apoiam o seu ato. Agrava-se a crise política. Em 23 de novembro Deodoro renuncia e o Marechal Floriano assume a presidência da República, depondo os governadores que apoiaram o golpe de Deodoro. Generoso Marques é um deles (foi deposto em 29 de novembro). Conforme a “História Política da Assembleia Legislativa do Paraná”, v. I, uma Junta Governativa assume o poder no Paraná e suspende os trabalhos da Assembleia Legislativa, que questiona sua autoridade para tanto, em um documento que lhe é encaminhado por 21 deputados presentes na sessão que tomou conhecimento dessa determinação. Os parlamentares também divulgam um manifesto ao povo. A Junta Governativa determina ainda a realização de novas eleições para a escolha do próximo governo e uma nova Assembleia Constituinte. São escolhidos então Francisco Xavier da Silva como governador e Vicente Machado como vice-governador. A Constituinte de 1892 é integrada por 28 membros. Dela não fez parte TSG nem seus correligionários do grupo de Generoso Marques (há uma predominância absoluta dos partidários de Vicente Machado). Um dos deputados eleitos é José Gonçalves de Moraes (1849-1909), de Morretes, poeta e tradutor (traduziu obras de Gauthier, Horácio e Virgílio), professor e comerciante (148). Seria parente da mãe de TSG, Da. Maria Gonçalves de Moraes? Conforme matéria publicada no “Diário do Commercio” de 2. 05. 1892, nº 393, ano II, p. 2, com a renúncia de Ubaldino do Amaral, deverá ser realizada eleição no dia 15 de junho para preencher sua vaga no Senado Federal. A “União Republicana”, o partido ao qual TSG pertencia, representada pelos seus eleitos no pleito de 10 de abril de 1891, apresenta como seu candidato o Dr. Manoel Alves de Araújo (como vimos, da família à qual TSG se vinculou pelo casamento). Dentre os 25 signatários, consta o nome de TSG e dos outros integrantes do grupo político a que se vinculava: Generoso Marques, Menezes Dória, Francisco J. Cardoso Jr, Chichorro Jr, Celestino Jr, Amazonas Marcondes, Telêmaco Borba etc Ainda em 1892, bem no final do ano, o jornal “A República” publica a ata da assembleia de constituição de uma Companhia de Navegação e Pesca, sediada em Antonina, bem como seus Estatutos. Informa-se aí que o coronel TSG foi escolhido presidente dessa assembleia, em que estavam presentes 28 acionistas, representando 70 ações. O capital da companhia é de dez contos de réis, divididos em 100 ações de cem mil réis cada uma. TSG detém 10 ações dessa Companhia, assim como Antônio Soares Gomes, seu tio. O presidente da companhia será Gustavo Raphael Lajus, que detém 22 ações. Os objetivos da sociedade, conforme seus Estatutos, consistem em: 1) fazer a navegação entre os portos de Antonina, Paranaguá, Guaraqueçaba e Superagui, adquirindo para tanto o vapor “D.Alberto”; 2) transportar malas do correio; 3) estabelecer a indústria da pesca, especialmente na baía das Laranjeiras (149). Essa proposta representa uma evolução ou amadurecimento daquela apresentada por Antônio Soares Gomes, por meio do governador do Estado, ao governo inicial da República em 1889, dispondo-se a realizar “um serviço de navegação regular a vapor, entre diversos pontos do litoral”? (cf. cap. II). Em março de 1893 é encenada em Paranaguá a peça “Gererê” ou o Quilombo do Sargento”, de TSG. Um comentário elogioso sobre ela, publicado no jornal “O Commercio”, é transcrito adiante (cf cap.VIII). Nesse mesmo ano TSG publica, em Curitiba, sua comédia “Xisto numa República de Estudantes”.