sábado, 3 de agosto de 2019

I. ORIGENS FAMILIARES

O dramaturgo e político paranaense Theophilo Soares Gomes-TSG nasceu na vila de Antonina, província do Paraná, no dia 16 de fevereiro de 1854 (1). Era filho de Manoel Soares Gomes (1829-1891) (v. foto acima), comerciante português nascido na cidade do Porto, que ainda jovem emigrou para o Brasil com seus irmãos, talvez também com o pai deles, Bernardo Soares (2) Manoel casou-se aqui com D. Maria Gonçalves Moraes Soares, nascida na província de Santa Catarina, filha do tenente-coronel Bento Gonçalves de Moraes Cordeiro. Segundo Ermelino de Leão (3). Moraes e Gonçalves Cordeiro descendem dos mais antigos troncos familiares dessa região do litoral paranaense. Como Manoel nasceu em 1829, ele contava 25 anos quando TSG nasceu. Os irmãos de Manoel chamavam-se Miguel, Joaquim e Antônio Soares Gomes, conforme descobri pelas referências feitas a eles nos jornais paranaenses antigos (4). O livro “O Último Capitão-Mor”, de Samuel Guimarães da Costa (5), transcreve depoimento do cronista Antônio Vieira dos Santos, nascido em 1784, também na cidade do Porto, sobre a sua vinda ao Brasil, e que nos dá uma ideia do trajeto e do tempo decorrido na viagem, embora a vinda para cá de Manoel Soares Gomes tenha se verificado algumas décadas mais tarde: “A 26 de maio de 1797, /.../, saí da casa de meus pais na cidade do Porto e embarquei em um bergantim que no dia seguinte saiu barra fora em direção a Lisboa, onde cheguei com 3 dias de viagem, a 30 desse mês. A 7 de agosto de 1797, /.../, saí da cidade de Lisboa com destino ao Rio de Janeiro, que depois de peripécias de longa viagem de 78 dias entrou à barra da baía de Guanabara, saltando em terra no dia 23 de outubro /.../“(p.4). Acrescenta Guimarães da Costa que Vieira dos Santos, então com 13 anos, empregou-se em casa comercial no Rio de Janeiro e em novembro do ano seguinte (1798) “embarcou na sumaca ‘Princezinha’ /.../ com destino à Vila de Paranaguá, gastando 11 dias nessa viagem” (p.5). O itinerário de Manoel Soares Gomes e a atividade econômica a que se dedicou podem ter sido as mesmas, mas não, talvez, o tipo de embarcação em que viajou (barco a vela), pois segundo C.M. Westphalen (6) desde 1839 já entravam barcos a vapor na baía de Paranaguá, mais frequentes, contudo, na segunda metade do século XIX .Guimarães da Costa, apoiando-se ainda em Vieira dos Santos, afirma que Paranaguá, em 1850, contava com uma população de 7 mil habitantes (p.14). Por outro lado, em outra passagem de seu livro, constam estas observações que mostram não ser exceção o caso de Manoel Soares Gomes: “Os historiadores constataram que a maioria dos emigrantes portugueses para o Brasil vinham justamente de entre Minho e Douro.” E mais adiante: “É impressionante o número de minhotos entre os portugueses que se tornaram troncos de novas famílias de Paranaguá. Nos 30 títulos das famílias que compõem a “Genealogia” de Francisco Negrão, seguramente cerca de metade tem seus troncos originários em portugueses do extremo norte de Portugal.” (p.28) TSG nasceu em Antonina porque seu pai, Manoel Soares Gomes, residia em 1854 nessa vila do litoral paranaense e mantinha relações comerciais com Curitiba, a capital da província recém-instalada (o Paraná emancipou-se da província de S. Paulo em 1853). Isso é o que informações publicadas no primeiro jornal paranaense, o “Dezenove de Dezembro”, permitem inferir. Assim, pouco mais de 4 meses depois do nascimento de TSG, devia continuar a residir em Antonina pois o “Dezenove de Dezembro” menciona Manoel Soares Gomes como uma das pessoas da comunidade que auxiliaram financeiramente as obras da matriz da vila de Antonina (7). No ano seguinte, 1855, o jornal publica anúncio sobre um negro fugitivo, pedindo que ele seja entregue na firma “Soares & Garcia”, em Curitiba, ou a Manoel Soares Gomes, residente em Antonina. Isso mostra a existência de um relacionamento entre Manoel e tal firma, que conforme anúncios no mesmo jornal do mês de janeiro (8) é um armazém “de secos, molhados e ferragens”, e está situado na rua da Carioca, 27, em Curitiba (o armazém acaba de ser aberto). Rua da Carioca é o antigo nome da atual rua Riachuelo dessa cidade. A sociedade de Manoel com Domingos Solis Garcias se desfaz em 22 de agosto de 1856, conforme outro anúncio publicado no mesmo jornal que informa sobre a dissolução de “Soares & Garcias”. Esta deve ser a grafia mais correta do nome da firma (9). Manoel, por residir no litoral, devia ser o importador de mercadorias que abasteciam o estabelecimento comercial de Curitiba. Em abril de 1856 ele devia estar morando em Paranaguá, pois o mesmo jornal traz um anúncio de sua casa de relojoaria e joias aí localizada, na rua da Ordem nº 26. No final de agosto de 1856 outro anúncio é mais específico. Informa que ele vende sortimento de ouros, relógios de sala, de algibeira (de ouro e prata). Na mesma casa comercial também se faz consertos em relógios e caixas de música (10). É possível que a fundação dessa nova firma explique a dissolução daquela sociedade com Garcias ocorrida no mesmo ano, como disse acima. Entre 1854 e 1857 deve ter ocorrido o falecimento da mãe de TSG pois, conforme a mesma fonte, que publicava dados sobre o movimento do porto de Paranaguá (11), o nome da futura 2ª esposa de Manoel já consta como sua acompanhante, usando seu sobrenome, numa viagem do navio a vapor “Conde d’Aquila” procedente de Santa Catarina que entrou naquele porto, em princípios de outubro de 1857. Dentre os passageiros são mencionados Adelaide Soares Gomes, o português Manoel Soares Gomes “e 1 escravo a entregar”. Quando o vapor sai do porto de Paranaguá, eles não constam mais como passageiros desse navio, o que significa que ficaram em terra. Mas só em 1864 é que Manoel se une formalmente a Rita Adelaide Coutinho Soares Gomes (1838-1911), casando-se a 20 de outubro na cidade de Desterro, atual Florianópolis. Esse é também o local de nascimento de Rita Adelaide, conforme minhas pesquisas. TSG tinha então 10 anos. A união de Manoel com Rita resultou em três filhos: Julieta (nascida em Santa Catarina em 1866), Edmundo e Franklin (este nascido no Rio de Janeiro em 1872 (12), o que indica uma possível tentativa de se estabelecer comercialmente nessa cidade. Mas já em 1877, ou antes, Manoel está de volta ao Paraná). Julieta era mãe de minha avó Arabela. Ainda na década de 1860, mais precisamente em janeiro de 1865, a seção “Movimento do porto de Paranaguá” do jornal “Dezenove de Dezembro” registra a entrada, em 1º de janeiro, do vapor “Imperatriz”, vindo de Santa Catarina, trazendo como passageiro, dentre outros, “o português Manoel Soares Gomes” . E no dia 17 desse mesmo mês, registra a saída desse navio para o Rio de Janeiro levando Manoel e seu escravo Amâncio (13). Essas informações nos permitem inferir que Manoel, sediado no litoral paranaense, devia se deslocar frequentemente pela costa brasileira tanto para Desterro (atual Florianópolis) como para o Rio de Janeiro, então capital do país e grande centro importador de mercadorias europeias (que Manoel comercializava), além de contar com uma expressiva colônia portuguesa. A referência mais antiga às atividades profissionais de seu filho TSG encontrei no jornal “Província do Paraná”, de Curitiba, em fevereiro de 1877, quando TSG já contava 23 anos. Consta aí anúncio comercial de sua “casa” em Antonina, que vende debulhadores de milho. Também “encarrega-se de mandar vir, com prontidão”: máquinas e aparelhos para a lavoura e indústria; máquinas de beneficiar café, de Lidgerwood e máquinas de costura Singer (14). Seis meses mais tarde, em agosto de 1877, o mesmo jornal publica anúncios da casa comercial de TSG em Antonina, que vende extrato de lúpulo, para a fabricação de cerveja, moinhos “para reduzir a farinha todos os grãos e mesmo erva-mate”, lampiões a querosene, que evitam explosão, e outros artigos. É uma Casa de Consignações, vende máquinas americanas. TSG, estabelecido em Antonina, era o único agente na província do Paraná de Lidgerwood MF’G Co. Limited, estabelecido no Rio de Janeiro, à rua do Ouvidor, 95. Outro anúncio informa que TSG vende “vinhos genuínos que, porconta de um fabricante muito acreditado em Portugal, recebeu em direitura e vai ter sempre em depósito”. Indica as marcas dessas bebidas: Collares, Arinto, Moscatel, cognacs Moscatel e Sigoumery, Lisboa (15). Por um outro anúncio, publicado no mesmo jornal em outubro de 1877, deduzimos que houve uma divisão de trabalho entre pai e filho, relativamente a um mesmo empreendimento comercial. Enquanto Manoel se estabelecera em Curitiba (provavelmente nessa época, pois a “Província do Paraná” de 18.12.1877, p. 2, chama a atenção do leitor para a sua casa comercial, “fundada há pouco nesta capital”), TSG residia no litoral, certamente o apoiando no recebimento de produtos importados chegados nos portos de Antonina ou Paranaguá e transferindo-os para o pai, no primeiro planalto, além dele próprio também comercializá-los. Segundo o anúncio, aCasa Progresso (“Casa americana importadora”), de M. Soares Gomes & Ca –únicos agentes na província do Paraná da Companhia Lidgerwood (móveis) -- localiza-se à “Rua do Rosário canto do Largo da Matriz” (atual praça Tiradentes), na área mais central de Curitiba. Ela vende “fogões econômicos” importados, máquina de costura Singer, instrumentos de lavoura, louça, porcelana, bandejas e baixela electoplate, lampiões a querosene, vinhos (“somente em caixa ou barril”). O anúncio informa ainda que quem quiser importar mecanismos para engenhos de mate, serraria, fábricas de tijolos, fabricação de açúcar, aguardente, café etc ou qualquer outra mercadoria (tílburis, carrinhos etc) deve contatar TSG em Antonina, que também vende vinhos importados (16). Ainda em 1877, no final do ano, outro jornal, “O Paranaense”, publica anúncio de M. Soares Comes e Comp. Isso também ocorre no começo de 1878 (17). Em setembro desse ano, consta este anúncio no “Dezenove de Dezembro” (18): “Engenhos centrais. M. Soares Gomes & Cª encarregam-se de mandar vir máquinas e tudo quanto for necessário para a montagem garantindo o seu bom êxito. Joias de ouro com pedras finas. M. Soares Gomes & Cª receberam sortimento em direitura de Europa”. Em setembro de 1879,a “Província do Paraná” (19) traz extenso anúncio da casa comercial de M. Soares Gomes & Comp. que indica os muitos produtos que vende, inclusive máquinas de Singer “para o uso de famílias, alfaiates, sapateiros, seleiros etc”, e máquina de tijolos e telhas. Aceita encomendas de máquinas a vapor etc Mas Manoel buscava diversificar suas atividades, voltando-se também para o setor de carnes. Uma edição do “Dezenove de Dezembro” de maio de 1880 (20) informa que foi sancionada a lei provincial nº 621 “autorizando a concessão de privilégio por 20 anos a Manoel Soares Gomes ou a quem mais vantagens oferecer para a construção de dois matadouros, um em Antonina e outro em Paranaguá”. Nesse mesmo ano de 1880 vale registrar que o cidadão Manoel Soares Gomes esteve presente à cerimônia de inauguração, em 22 de maio, do edifício do hospital da Santa Casa de Misericórdia na atual praça Rui Barbosa, em Curitiba, com a presença do imperador D. Pedro II e sua comitiva. Foi uma das 162 pessoas que assinaram a respectiva Ata (21).Essa foi a primeira, e única, vez que o Imperador visitou o Paraná. Em julho de 1882, a “Província do Paraná”(22) publica mais um anúncio da Casa Americana de M. Soares Gomes, destacando que “Continua a ser não só o único agente nesta província para as máquinas legítimas Singer como para máquinas a vapor e todos os maquinismos da muito acreditada LIDGERWOOD MANUFACTURING COMP. LIMITED” e que “É também agente do fabricante Conteville e tem sempre sortimento de balanças, ferramentas e maquinismos para ferreiros, serralheiros, segeiros&” (obs: segeiro = fabricante de seges, de carruagens). No final da vida, a julgar pelas menções na imprensa, Manoel teve uma participação mais ativa na vida da comunidade como uma de suas lideranças empresariais. Em 1883, participou do movimento dos comerciantes da cidade contra a decisão do presidente da província Carlos de Carvalho de instituir um imposto sobre o comércio. Em 5 de abril assinaram uma “representação” encaminhada ao presidente (23). Os comerciantes pedem que haja uma classificação das casas comerciais e sugerem a formação de uma comissão em que poderiam auxiliar o governo provincial nesse trabalho. Um dos 34 comerciantes que assinam a representação é Manoel Soares Gomes. A mesma edição do “Dezenove de Dezembro” que noticiou o fato, publicou nas pp.2-3 outra “representação”, datada de 21 de abril, contra ato do presidente da província de 18 de abril que aditou disposições ao regulamento de 29 de janeiro próximo passado, relativo ao imposto de 1 ½ % sobre as vendas comerciais. Os comerciantes afirmam que a lei que criou tal imposto ofende o ato adicional “que proíbe as assembleias provinciais legislarem sobre impostos de importação”. Eles também lamentam que o presidente não tenha acatado a sua proposta anteriormente encaminhada. Protestam contra a execução do regulamento e dizem que vão levar a assunto à Assembleia Geral Legislativa (Câmara Federal). Assinam 59 comerciantes, um dos quais é Manoel. Na p. 3 desse mesmo jornal consta texto relativo a “habeas corpus” de comerciantes presos por ocasião dos tumultos do final de março. No final de 1884, o “Dezenove de Dezembro” (24) publica matéria alusiva à chegada, proximamente, da primeira locomotiva à estação da estrada de ferro, em Curitiba (procedente de Paranaguá). Visando solenizar o dia da chegada, alguns cidadãos se reuniram no salão Strobel para tratar do assunto. Diversos moradores se encarregaram dos festejos, em diversas ruas. Na rua do Rosário, são citados Matzke (ou Mottzka), major Menezes e Soares Gomes. Manoel, dada a sua proficiência em inglês, foi convidado pelo governo da província para participar da banca de examinadores que atuaria por ocasião dos “exames preparatórios” adotados pelo sistema educacional da época (era um pré-requisito para o acesso ao ensino superior do Império) (25). A “Gazeta Paranaense”, no final de 1885 (26), informa sobre a nomeação, pelo presidente da província (A.E.Taunay), dos examinadores “para funcionarem nas bancas de exames gerais de preparatórios”, que abrangem português, francês, latim, inglês, geografia, filosofia, aritmética, álgebra, geometria, retórica e história. Os examinadores de inglês serão Manoel Soares Gomes e major Saturnino Ribeiro da Costa Júnior. Quase um ano depois, no final de 1886, o mesmo jornal (27) publica novamente a relação das pessoas nomeadas para integrar as bancas de examinadores dos “exames preparatórios”. Quanto à banca de inglês, o presidente será Alfredo Caetano Munhoz e os examinadores, DrAntonio M. de Mello (depois substituído por Augusto Herzberg) e Manoel Soares Gomes (casualmente, estão presentes aqui dois parentes de minha avó Arabela: seu tio Alfredo, Inspetor da Tesouraria de Fazenda, e Manoel, seu avô). Manoel, como não podia deixar de ser, dadas as vinculações familiares/ políticas de seu primogênito, também apoiou o partido Liberal no tempo do Império. Isso é revelado por matéria publicada no “Dezenove de Dezembro” (28). Ele foi um dos signatários (de Curitiba) que aderem ao manifesto assinado na cidade de Castro, em 7 de janeiro de 1888, pelos juízes de paz que constituíram a maioria da junta apuradora do 2º distrito eleitoral da província. Esse manifesto, assinado por 9 juízes de paz (um deles Hippolyto Alves d’Araújo), contesta um boletim publicado na capital da província que divulga o seguinte resultado eleitoral do 2º distrito: “deputados conservadores diplomados 8, liberais 4”, pois o resultado correto é: 12 cidadãos eleitos, “todos pertencentes à parcialidade liberal” (foram expedidos diplomas a eles). O juiz de paz de Ponta Grossa, e quatro outros, da parcialidade conservadora, não concordaram com a proclamação dos eleitos e se retiraram sem assinar a ata respectiva. Encabeçam a lista de adesões (que inclui o nome de Manoel Soares Gomes) o Dr Generoso Marques, o Comendador Antônio Alves de Araújo, o Dr José Lourenço de Sá Ribas, o Ten-Cel Benedito Eneas de Paula, o Dr. Tertuliano T. de Freitas etc O “Dezenove de Dezembro” (29) publica manifestação de pesar --datada de 27.04.1888 e assinada por 25 representantes do comércio de Curitiba -- pelo falecimento do Comendador Antonio Alves de Araújo, “ilustre colega e amigo”. Um dos signatários é Manoel (o Comendador era tio da 1ª. esposa de seu filho TSG). Ainda em 1888, ele integra um grupo de homens de negócios (liderado pelo Barão do Serro Azul) que reivindica a criação de um banco para a Província do Paraná, projeto proposto por Frederico Perracini, conforme nota publicada no jornal “Gazeta Paranaense” (30). Na mesma época, uma edição do “Dezenove de Dezembro” (31) publica nota sobre a fundação do Banco Provincial do Paraná que transcreve carta assinada por Frederico Perracini, seu futuro diretor, datada de 1º de julho de 1888 e dirigida ao redator do jornal. Nela, ele cita o nome de 11 comerciantes e industriais que tomaram a decisão de fundar esse Banco em Curitiba. Manoel Soares Gomes é um deles. Os outros são: Com. Ildefonso Pereira Correia (Barão do Serro Azul), Com. Francisco F. Fontana, Dr. José Pereira dos Santos, Dr. Emygdio Westphalen, Priscilliano Correia, José Hauer, Henrique Peters, Joaquim Queiroz, Antonio Barros e Cyro Velloso. “O capital do Banco será de 500:000$ em 2.500 ações de 200$ cada uma, dividido em 10 prestações /.../ os acionistas serão convocados em assembleia geral para discutir-se os estatutos e formar o primeiro conselho de administração. A subscrição ficará aberta desde 15 do corrente até 15 de agosto próximo /.../“. O pai de TSG permaneceu em suas atividades comerciais até o fim da vida. Em 1889, anúncio na “Galeria Ilustrada” refere-se a M.Soares Gomes como “importador de máquinas a vapor, máquinas de costura, mobílias, instrumentos de lavoura e artigos de ferragem, louça, porcelanas, cristais etc. dos Estados Unidos” (32). No último dia de setembro de 1889, bem no final do Império portanto, o “Dezenove de Dezembro” (33) informa que M. Soares Gomes é um dos 10 comerciantes que integram uma comissão criada em reunião no palácio que dentro de 5 dias dará ao presidente Jesuíno Marcondes sua opinião sobre a proposta que este fez à categoria no sentido de criar “um adicional sobre os direitos pagos pela importação direta” de modo a equiparar sua oneração com a do comércio de importação interprovincial, hoje superior, e assim ajudar a enfrentar a crise nas finanças da província. O fato mostra a importância relativa de Manoel no comércio importador do Paraná da época. Após a proclamação da República, o nome de Manoel Soares Gomes aparece no topo de um rol de cem comerciantes que encaminham documento ao governador Francisco José Cardoso Jr. felicitando-o pelo modo como conduziu o Estado—mantendo o “princípio de autoridade” e assegurando a “ordem pública”—por ocasião dos acontecimentos políticos que acabavam de ocorrer (instauração da República). Segundo o historiador David Carneiro, tal movimento daria como resultado a criação da Associação Comercial do Paraná, em julho de 1890 (34). Manoel Soares Gomes faleceu em Curitiba em 22 de julho de 1891, aos 62 anos incompletos. “A República” (35) noticia o seu falecimento repentino, caracterizando-o como “conceituado negociante e capitalista desta praça”. Alguns anos mais tarde, o “Almanach do Paraná para 1899” (Edição Livraria Econômica, Curitiba) informa sobre as firmas que o sucederam, a cargo da viúva Rita Adelaide e dos filhos Franklin e Edmundo. O “Almanach” publica anúncio da Casa Importadora de Franklin Soares, sucessor de Viúva Soares & Filhos e M.Soares Gomes, estabelecida na praça Tiradentes, 21, em Curitiba, com foto do seu prédio (7 portas no térreo, 7 janelas no andar superior). No anúncio consta que a firma detém “O maior depósito de máquinas de costura no Paraná” e que é “Grande depósito das legítimas e afamadas máquinas Singer”- The Singer Manufacturing &Co, New York- . Também anuncia bicicleta Singer (road ranger) Model B, além de uma série de outros produtos: “Completo sortimento de ferragens, metais, louças, cristais, vidros. Mobília, espelhos, tapetes, fantasias e novidades. Maquinismo, arados, carros de mão, cimento, bombas e encanamentos.” Aparentemente, Franklin Soares mudaria de ramo em sua atividade comercial. No “Almanach do Paraná para 1904” (sétimo ano, redator: Romário Martins), é citado estabelecido na praça Tiradentes no ramo de fotos (“fotografias“), junto com Adolpho Wolk, Max Kopf, José Weiss & Irmão. Mais tarde, no “Almanach do Paraná para 1908” (redator: Corrêa Netto) consta, dentre outras firmas no ramo de fotografias, Franklin S. Gomes, estabelecido na rua 15 de Novembro. Nesse mesmo Almanach, em outra página, consta anúncio de Franklin Soares (endereço: Rua 15 de Novembro, 22-24), nestes termos: 1) primeira metade da página: Fotografia. “Grande sortimento de artigos fotográficos, lanternas de ampliação, aparelhos de viagem e de luxo, para profissionais e amadores. Chapas Agfa. Recebe-se todos os meses papel Celloidin, Matt e brilhante emulsão recente. Cartões postais sensíveis celloidin e bromuro. Produtos químicos garantidos. Receitas e explicações grátis.” 2) segunda metade da página: Filatelia!. “Selos para coleções em folhas a escolher. Compra-se selos nacionais. Completo sortimento de Álbuns para selos desde 1$500 até 180$000” No “Almanach do Paraná para 1912” Franklin Soares não aparece no Indicador Comercial mas no “Almanach” para 1913 sua firma consta em tal Indicador, no ramo de “Cigarros e Charutos”. Endereço: rua Riachuelo. Segundo meu pai, Herbert Munhoz van Erven, Franklin vendeu todo o seu equipamento fotográfico para Francisco Serrador. A propósito, Franklin Soares Gomes é citado no “Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro (1833-1910)” de Boris Kossoy (Instituto Moreira Salles, 2002), como um dos pioneiros da fotografia no país. A Casa da Memória, em Curitiba, possui em seu acervo algumas fotografias da cidade tiradas por ele.

Um comentário: