sábado, 3 de agosto de 2019

V. COMEÇA A REPÚBLICA E A CARREIRA POLÍTICA DE THEOPHILO

TSG contava 35 anos em 15 de novembro de 1889, quando foi proclamada a República pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Os liberais – apoiados por TSG e o clã familiar ao qual se vinculava -- estavam então no poder. Jesuíno Marcondes, nessa data, deixa a presidência da Província do Paraná, sendo substituído pelo marechal Francisco José Cardoso Júnior, que assume a chefia do governo provisório (139). O historiador Ermelino de Leão, em seu “Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná”, faz este interessante comentário envolvendo o comendador Henrique Alves de Araújo, TSG, seu genro (pelo segundo casamento) e Jesuíno Marcondes, caracterizando-os como investidores naquela época do início da República conhecida como “encilhamento”: “O Coronel Henrique Alves de Araújo, depois de proclamada a República, retirou-se para S. Paulo em companhia do Conselheiro Jesuíno Marcondes e do seu genro Cel. Teófilo Soares Gomes. Aí, na época do encilhamento, jogando na Bolsa, adquiriu avultada fortuna invertida em títulos de companhias e empresas, como os seus parentes citados. Recordo-me que o Conselheiro Marcondes, pressentindo a proximidade do “crac”, resolveu converter em dinheiro e em ouro todos os seus títulos e retirar-se, com a família, para a Suíça. Muito insistiu ele com o Comdor. Henrique e com o Cel. Teófilo Soares Gomes para que o imitassem. A voragem da Bolsa havia, porém, atraído os dois amigos e parentes com a miragem de fabulosas riquezas: ambos ficaram em S. Paulo. Pouco depois a previsão do Conselheiro Jesuíno se tornava realidade: os títulos da bolsa caíam vertiginosamente /.../. O Comendador Henrique Alves de Araújo voltou para o Paraná, dedicando-se novamente à indústria pastoril, falecendo em Curitiba /.../ ” (140). Em 1890, segundo informações do jornal “A República”, TSG continuava vinculado profissionalmente à Alfândega de Paranaguá, da qual se licencia, conforme autorização do governador do Estado, em janeiro desse ano (141). Mas, paralelamente, ele desenvolve atividades privadas, pois em 22 de setembro outro despacho do governador atende requerimento seu, concedendo-lhe isenção dos impostos de importação do Estado, e também os de exportação, por 5 anos, “como meio de animar a indústria” (142). Duas semanas mais tarde, matéria do mesmo jornal nos permite entender melhor a razão desses benefícios fiscais. Publica-se aí, na íntegra, um contrato celebrado entre TSG e o Tesouro do Estado. Manoel Soares Gomes (seu pai) é o procurador de TSG. O contrato foi celebrado em 2.10.1890 e visa “a montagem de uma fábrica de tecer panos de algodão no município de Antonina” (TSG deve montá-la em dois anos, a partir daquela data). O contrato prevê a isenção de impostos estaduais por 15 anos “para importação da matéria-prima, máquinas e acessórios de sua indústria e por 5 anos para a exportação dos produtos da mesma” (143). Paralelamente às suas atividades profissionais, como funcionário público e empreendedor privado, TSG fazia política. Nesse ano de 1890 integrava um grupo de personalidades locais que formaram um partido político, de oposição ao de Vicente Machado, conforme informa uma coluna publicada em “O Dia” (144), sob o título “Biografias paranistas”. O biografado é Manoel Correa Defreitas (1853-1933), pregador da república e da abolição. Afirma-se aÍ: “Em 1890, com Generoso Marques, Cardoso Júnior, Silveira da Mota, José Pacheco dos Santos Lima, Emygdio Westphalen, Menezes Dória, Theophilo Soares Gomes, Chichorro Júnior, Telêmaco Borba, Celestino Júnior, José Gonçalves Lobo e outros elementos de diversos matizes partidários, congregou a ‘União Republicana’ de oposição ao ‘Partido Republicano Paranaense’, organizado e presidido por Vicente Machado”. Segundo Sebastião Paraná, em 19 de abril de 1891 TSG foi eleito deputado ao Congresso Legislativo do Paraná (145). Essa foi a primeira de uma série de outras eleições de que participou, eleições essas com as características próprias daquelas que ocorriam na República Velha, em que pesava muito a influência das oligarquias familiares, de que se beneficiou TSG. Ele inicia assim, aos 37 anos, sua longa carreira política, que se estenderá por quatro décadas, até a revolução de 1930, que dá fim a um ciclo da nossa história republicana. De acordo com a “História do Paraná” de Balhana et al. (Grafipar) (146), as eleições foram realizadas em 10 de abril de 1891, e não no dia 19. Conforme a “História Política da Assembleia Legislativa do Paraná” (147), e outras fontes, nas eleições antes mencionadas, Generoso Marques dos Santos foi eleito presidente do Estado e J.I. Silveira da Mota, vice-presidente. Dispunha decreto do Marechal Deodoro que o novo Congresso estadual também tinha função constituinte. Assim, promulgou a Constituição paranaense em 4 de julho de 1891. O Coronel TSG era o 3º vice-presidente desse “Congresso Constituinte e Legislativo”, presidido pelo Dr. João de Menezes Dória (ambos teriam um papel relevante por ocasião da Revolução Federalista no Paraná, como se verá no próximo capítulo). No período pré-eleitoral, o “Diário do Comércio” de Curitiba, ano 1, nº 42, edição de 21 de fevereiro de 1891 (e em outras edições) publica o texto “Ao eleitorado do estado do Paraná” em que alguns políticos importantes como Generoso Marques dos Santos, General Francisco José Cardoso Júnior, Barão de Guaraúna e outros recomendam a chapa da “União Republicana” que contém candidatos a deputado nas próximas eleições para o Congresso do Paraná a realizar-se em 10 de abril. Dentre os nomes arrolados de candidatos consta o de TSG, “negociante, residente em Antonina”, e o de Joaquim Soares Gomes, seu tio, “negociante, residente em Paranaguá”. Nessa edição, o jornal, que é propriedade da Companhia Impressora Paranaense e tem como redator Leôncio Correia, critica Vicente Machado, de “A República”, por atacar o General governador do Estado. Mas o jornal também publica a outra chapa, recomendada por Ubaldino do Amaral Fontoura, Santos Andrade, Barão do Serro Azul, Vicente Machado etc... Em abril de 1891, no dia 25, o “Diário do Comércio” publica o resultado da votação para deputados ao Congresso Legislativo estadual, realizada alguns dias antes, naquele mesmo mês (no dia 10, como vimos), salientando que ainda falta a apuração de algumas seções do interior “que não alteram o resultado”. É apresentada uma lista de 36 nomes em ordem decrescente de votos. TSG situou-se em 30º lugar, com 6193 votos, e Joaquim Soares Gomes em 16º com 6254. Nessa lista, Generoso Marques situou-se em 4º lugar com 6438 votos, Telêmaco Borba em 20º com 6241 e Menezes Dória em 28º com 6201. Após os 36 nomes, constam ainda outros candidatos e a votação que receberam. Vicente Machado aí incluído recebeu 4776 votos, mostrando que a corrente republicana liderada por Generoso Marques era então a mais forte. Note-se que inclusive TSG e seu tio tiveram mais votos que Vicente Machado, cuja importância política aumentaria com a passagem do tempo, chegando a ocupar a presidência do Estado. No “Diário do Commercio” de 8.05.1891, nº 103, ano I, p. 3, o general Francisco José Cardoso Jr, presidente da Intendência Municipal da cidade de Curitiba, divulga em edital os resultados da eleição dos deputados à Assembleia Constituinte e Legislativa do Estado realizada em 10 de abril próximo passado. Foram diplomados os 36 mais votados, um deles TSG, com 6738 votos (32º lugar). Outro, Joaquim Soares Gomes, que obteve6832 votos (14º lugar). O mais votado obteve 11.444, e o 36º, 6688. Vicente Machado consta mais abaixo, com 5136 votos. Nesse mesmo jornal--“Diário do Commercio” de 20.04.1891, nº 88, ano I, p. 3, na coluna “Telegramas” (“Rio, 20”) -- consta que foi demitido o coronel comandante superior da Guarda Nacional de Antonina Joaquim A. de Loyola e nomeado para substituí-lo TSG. Assim, o deputado recém-eleito também assume o comando dessa instituição em seu município. A interação da Guarda Nacional com a vida política de então é um fenômeno típico da República Velha. Mas o início do período republicano não ocorre tranquilamente. Em 3 de novembro de 1891, Deodoro dissolve o Congresso Nacional. Quase todos os governadores dos estados apoiam o seu ato. Agrava-se a crise política. Em 23 de novembro Deodoro renuncia e o Marechal Floriano assume a presidência da República, depondo os governadores que apoiaram o golpe de Deodoro. Generoso Marques é um deles (foi deposto em 29 de novembro). Conforme a “História Política da Assembleia Legislativa do Paraná”, v. I, uma Junta Governativa assume o poder no Paraná e suspende os trabalhos da Assembleia Legislativa, que questiona sua autoridade para tanto, em um documento que lhe é encaminhado por 21 deputados presentes na sessão que tomou conhecimento dessa determinação. Os parlamentares também divulgam um manifesto ao povo. A Junta Governativa determina ainda a realização de novas eleições para a escolha do próximo governo e uma nova Assembleia Constituinte. São escolhidos então Francisco Xavier da Silva como governador e Vicente Machado como vice-governador. A Constituinte de 1892 é integrada por 28 membros. Dela não fez parte TSG nem seus correligionários do grupo de Generoso Marques (há uma predominância absoluta dos partidários de Vicente Machado). Um dos deputados eleitos é José Gonçalves de Moraes (1849-1909), de Morretes, poeta e tradutor (traduziu obras de Gauthier, Horácio e Virgílio), professor e comerciante (148). Seria parente da mãe de TSG, Da. Maria Gonçalves de Moraes? Conforme matéria publicada no “Diário do Commercio” de 2. 05. 1892, nº 393, ano II, p. 2, com a renúncia de Ubaldino do Amaral, deverá ser realizada eleição no dia 15 de junho para preencher sua vaga no Senado Federal. A “União Republicana”, o partido ao qual TSG pertencia, representada pelos seus eleitos no pleito de 10 de abril de 1891, apresenta como seu candidato o Dr. Manoel Alves de Araújo (como vimos, da família à qual TSG se vinculou pelo casamento). Dentre os 25 signatários, consta o nome de TSG e dos outros integrantes do grupo político a que se vinculava: Generoso Marques, Menezes Dória, Francisco J. Cardoso Jr, Chichorro Jr, Celestino Jr, Amazonas Marcondes, Telêmaco Borba etc Ainda em 1892, bem no final do ano, o jornal “A República” publica a ata da assembleia de constituição de uma Companhia de Navegação e Pesca, sediada em Antonina, bem como seus Estatutos. Informa-se aí que o coronel TSG foi escolhido presidente dessa assembleia, em que estavam presentes 28 acionistas, representando 70 ações. O capital da companhia é de dez contos de réis, divididos em 100 ações de cem mil réis cada uma. TSG detém 10 ações dessa Companhia, assim como Antônio Soares Gomes, seu tio. O presidente da companhia será Gustavo Raphael Lajus, que detém 22 ações. Os objetivos da sociedade, conforme seus Estatutos, consistem em: 1) fazer a navegação entre os portos de Antonina, Paranaguá, Guaraqueçaba e Superagui, adquirindo para tanto o vapor “D.Alberto”; 2) transportar malas do correio; 3) estabelecer a indústria da pesca, especialmente na baía das Laranjeiras (149). Essa proposta representa uma evolução ou amadurecimento daquela apresentada por Antônio Soares Gomes, por meio do governador do Estado, ao governo inicial da República em 1889, dispondo-se a realizar “um serviço de navegação regular a vapor, entre diversos pontos do litoral”? (cf. cap. II). Em março de 1893 é encenada em Paranaguá a peça “Gererê” ou o Quilombo do Sargento”, de TSG. Um comentário elogioso sobre ela, publicado no jornal “O Commercio”, é transcrito adiante (cf cap.VIII). Nesse mesmo ano TSG publica, em Curitiba, sua comédia “Xisto numa República de Estudantes”.

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