sábado, 3 de agosto de 2019

IV. NO TEMPO DO IMPÉRIO

Em 1877, já vimos que TSG, aos 23 anos, se dedicava profissionalmente às atividades comerciais, participando com destaque da vida social em Antonina. Já estava casado com uma jovem pertencente a uma das mais importantes oligarquias familiares da Província. Nesse ano, a “Província do Paraná” de 9 de junho publica matéria elogiosa ao Barão de Tefé, que estava encarregado de executar melhorias no porto de Antonina. Posteriormente, o jornal traz nota de agradecimento da Comissão -- encarregada do baile oferecido ao Barão de Tefé e 1º tenente Aprígio dos Santos Rocha -- a todos aqueles que concorreram para o êxito da festa. Assinam a nota Joaquim P. Pinto Chichorro, Benigno Augusto Pinheiro Lima e Theophilo Soares Gomes. Está datada assim: “Antonina, 10 de junho de 1877”. Mais tarde, em julho do mesmo ano, a “Província do Paraná” divulga carta do Barão, ao retornar para a corte, dirigida à Câmara Municipal de Antonina, em que agradece a recepção e a amabilidade de que ele e seu ajudante foram alvos. (73) Ainda em 1877, no jornal “Dezenove de Dezembro” (74) “o ilustre escritor português” José Palmella, ao retirar-se da província, onde fez conferências em favor da propagação do ensino obrigatório, manifesta a uma série de pessoas “reconhecimento pelas provas de simpatia, finezas e obséquios recebidos”. Em Paranaguá, ele menciona, dentre outros, o vice-cônsul português Joaquim Soares (tio de TSG). Em Antonina, Theophilo Soares e Antônio Soares Gomes (tio de TSG). Em Curitiba, o major Manoel Negrão, Alfredo Munhoz e cavalheiros que fizeram parte das comissões enviadas pelo club “Literário Curitibano”, das lojas maçônicas- “Apóstolo da Caridade”, “Concórdia 4”. A nota está datada assim: “Curitiba, 22 de outubro de 1877”. Em 28 de setembro de 1878 TSG foi nomeado (pela primeira vez) Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, em substituição ao tenente-coronel Joaquim Candido Corrêa, conforme o “Dezenove de Dezembro” (75). Mas logo perde essa posição, Mas logo perde essa posição, em 1879, pois TSG é citado no “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Paraná para 1880”, como Adido à Alfândega de Paranaguá e Ex-Administrador da Mesa de Rendas de Antonina. Não permaneceu muito tempo no cargo, certamente devido às mudanças ocorridas no governo, embora todos fossem do partido Liberal. Quando TSG foi nomeado, o presidente da província era Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes (até 31 de março de 1879), sucedido pelo vice-presidente Jesuíno Marcondes, no exercício do cargo até 23 de abril de 1879, quando assumiu o novo presidente, Manoel Pinto de Souza Dantas Filho (76). Aparentemente, não havia incompatibilidade entre a acumulação das atividades do comerciante TSG com as de funcionário público fazendário. Ao longo de 1879, o liberal Jesuíno Marcondes sofreu críticas pesadas do oposicionista “O Paranaense”, órgão do partido Conservador, cujo redator era Justiniano de Mello e Silva (77). Na edição de 3 de fevereiro, há uma matéria sobre a colonização de Palmeira em que se critica Jesuíno Marcondes, chefe do partido Liberal, chamado de “Cacique da província”. (Hypolito Alves de Araújo é chamado de “genro do Exmo Cacique”). Um pouco antes, na edição de 26 de janeiro, o jornal critica a situação dos imigrantes russo-alemães, afirmando que eles foram assentados em “terras sáfaras” (= improdutivas, segundo dic. Houaiss) e que os “areais dos Marcondes foram comprados por fabulosas somas”. Em 9 de setembro, “O Paranaense”, na seção “Folhetim”, remete ao “Deutsch Zeitung” que publicou matéria a favor dos russos que voltaram para a Europa. Mostra dados quanto às terras compradas na região em que eles seriam assentados, todas de membros da família de Jesuíno. Valor total: 452:873$000. O jornal qualifica as terras como “péssimas”. Também na edição de 5 de outubro consta no jornal matéria sobre o fracasso da colonização russo-alemã, em que se critica a compra de terras estéreis para assentar os imigrantes, vendidas por Jesuíno Marcondes e seus familiares. E no ano seguinte, em maio de 1880, afirma que houve “aquisição de terrenos completamente imprestáveis” para o assentamento do colonos russo-alemães. Ainda em 1879, em 13 de julho, “O Paranaense” publica uma relação de 20 nomes, supostos candidatos a deputados provinciais. O primeiro da lista é o Conselheiro Jesuíno Marcondes, e todos os outros 19 têm alguma relação de parentesco com ele, indicada após o nome. Um é tio, outro é cunhado, primo, genro etc. Assim, consta aí Dr. Manoel Alves d’Araújo, “cunhado”, Comendador Antônio Alves d’Araújo, “cunhado”, Amazonas d’Araújo Marcondes, “primo” etc TSG é citado como Theophilo Soares d’Araújo (sic), “sobrinho”, e D. Fanor Cumplido, “concunhado”. Trata-se de uma nota obviamente irônica e crítica, mas certeira, contra a forma (personalista, dependente dos chefes políticos) como era definido na época o rol de candidatos a deputados apresentado pelos partidos. O problema é que isso não ocorria só no partido Liberal... No mês seguinte, em 26 de agosto, “O Paranaense” publica a chapa “oficial” do partido Liberal contendo seus 20 nomes de candidatos a deputados à Assembleia Provincial. Mas na introdução a ela há uma nota crítica. Afirma-se aí que tal chapa foi “confeccionada pelo conselheiro Jesuíno”. E depois da eleição para deputados provinciais, realizada em 7 de setembro, “O Paranaense” do dia 21 confirma: “Triunfou /.../ a chapa atirada ao eleitorado da província pelo conselheiro Jesuíno Marcondes”. (77) No “Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Província do Paraná para 1880” antes citado, na p.149, consta que uma “escola promíscua” foi fundada em outubro de 1879, no bairro da Cachoeira, por algumas pessoas de Antonina. Suas despesas correm por conta dos cidadãos João Manoel Ribeiro Vianna e TSG. Esse fato foi também noticiado no “Dezenove de Dezembro” de 13.11.1879, p. 4. Alguns meses antes, uma edição da “Província do Paraná” de maio de 1879 (78) publicou parte do relatório do presidente Rodrigo Otávio, ao passar a administração da província ao conselheiro Jesuíno Marcondes em 31 de março de 1879, onde TSG é mencionado. Ele, juntamente com João Manoel Ribeiro Vianna e Antônio Alves dos Reis, compõe a comissão que dirige os trabalhos relativos à estrada de Antonina à colônia Assungui (atual Cerro Azul), e que, futuramente, se estenderia até Castro. Em 1880, no DD de 19 de maio, p. 2, consta despacho do presidente da província mandando o engenheiro Tourinho informar sobre um requerimento “que a S.M. o Imperador dirige o cidadão argentino D. Fanor Cumplido pedindo permissão para abrir uma estrada que pelos campos de Palmas e Erê, nesta província, vá a Corrientes, na Confederação Argentina” (Fanor Cumplido, como se viu, era pai da 1ª esposa de TSG, seu sogro, portanto). Em 18.05.1880, o imperador Pedro II e esposa desembarcaram em Paranaguá para uma visita de 20 dias à província do Paraná (79). No último dia do mês de junho desse ano o “Dezenove de Dezembro” (80) publica matéria sobre a visita do Imperador ao Museu em Paranaguá. No rol de pessoas que ultimamente fizeram doações a esta instituição consta o nome de TSG (ele doou “um tucano empalhado”). Por outro lado, numa edição desse jornal do fim de setembro (81), consta o seguinte: “Na exposição dos objetos oferecidos ao museu /.../ chamou a atenção de todos um primoroso vaso, feito de conchas, contendo um belíssimo ramalhete de flores e frutos, interessante trabalho feito de escamas, penas, conchas e cepilho etc pela Exma Sra D. Rita Soares Gomes (2ª esposa de Manoel Soares Gomes, pai de TSG, acrescento eu- DvE; também sublinhei). Descansa o referido vaso sobre uma engenhosa máquina, que habilmente foi arranjada pelo Sr. Domingos José Fernandes Júnior, e produzia o curioso efeito de fazer constantemente girar o mesmo vaso, tocando peças de música com intervalos de cinco minutos” (82) Em outra edição do ”Dezenove de Dezembro”, de março de 1881 (83) o nome de TSG consta na relação de pessoas que fizeram doações ao Museu Paranaense. Ele doou “um tucano empalhado e dois cascos de tatu”. Em 1881, o “Dezenove de Dezembro” informa, sob o título Guarda Nacional, que TSG foi nomeado, por decreto de 14 de maio desse ano, “Major ajudante d’ordens servindo de secretário geral”. Também “O Paranaense” noticiou o fato, publicando a relação de nomeados para a Guarda Nacional da Comarca de Antonina (84). Em agosto do mesmo ano, no “Dezenove de Dezembro” (85) consta matéria sobre o baile realizado em Antonina em homenagem ao chefe do Partido Liberal da província conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá. Na relação das 93 pessoas signatárias da felicitação lida pelo representante da municipalidade são citados, além de A. Alves de Araújo e M. Alves de Araújo, os nomes de TSG e de seu tio Antônio Soares Gomes. A nota do DD chama os signatários de “93 dos principais cidadãos de Antonina”. No final de 1881, TSG era novamente o Administrador da Mesa de Rendas de Antonina (cargo que ocupara em 1878-1879, como vimos) pois no “Expediente da Presidência” do dia 29 de novembro, publicado no DD (86), consta o seguinte: “O presidente da província concede ao administrador da mesa de rendas de Antonina, Theophilo Soares Gomes, dois meses de licença, com vencimentos, na forma da lei, para tratar de sua saúde dentro da província”. Em 1882 TSG já retornara à condição de ex-administrador da mesa de rendas de Antonina, e de adido à Alfândega de Paranaguá. O “Noticiador” desta cidade, de 29 de abril, informa que foi prorrogada por 4 meses a sua licença do trabalho. Segundo a “História do Período Provincial do Paraná” já citada, o presidente da província, de 3 de maio de 1881 a 26 de janeiro de 1882, era Sancho de Barros Pimentel. Desta última data até 6 de março, exerce o cargo o vice-presidente Jesuíno Marcondes (87). Conforme edições do DD de janeiro de 1883 (88), constituiu-se uma comissão de 5 pessoas, nomeada pelo presidente da província Carlos de Carvalho, encarregada de “agenciar donativos para a construção de uma casa escolar” em Antonina. “A essa comissão será entregue o donativo de 500$000 feito por S.M. o Imperador quando dignou-se de visitar esta província”. TSG integra a referida comissão (assim como o cel Joaquim Alves de Araújo, presidente da Câmara Municipal de Antonina). No “Expediente da Presidência” de 15 de setembro, publicado no “Dezenove de Dezembro” (89), TSG, “membro da comissão escolar na cidade de Antonina”, é autorizado a recolher na caixa econômica da província a quantia de 150$ doados por uma companhia tauromáquica quando ali se achava em favor da casa escolar. Nessa caixa econômica já fora recolhida a soma que S.M. o Imperador doara com essa finalidade. O novo presidente da província Oliveira Bello (que assumiu em 17 de agosto, ou 3 de setembro, de 1883, após um curto período o comendador sucedendo o conforme a “História do Período Provincial” citada acima), no despacho, aproveita a oportunidade “para louvar e agradecer o zelo e dedicação que v.s.(TSG) tem mostrado no desempenho da comissão de que foi incumbido pelo meu antecessor”. No final do ano, esse presidente recebe manifestação de apoio por parte de Antonina. Em um ofício datado de 27.12.1883 encaminhado ao presidente Oliveira Bello, os 19 signatários (um deles, TSG) elogiam a ideia do presidente de instituir o ensino obrigatório. Informam que criaram uma associação “que concorrerá com o vestuário para os meninos indigentes e terá a honra de prestar a V. Exa. todo apoio na execução de tão útil medida” (90). TSG voltara a ocupar o cargo de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina. O DD de 30.06.1883, p. 4, informou sua nomeação (e a de Joaquim Procópio Pinto Chichorro como escrivão). Um pouco antes, em 26 de maio, assumira a presidência o vice-presidente Antônio Alves de Araújo, exercendo-a num curto período, anterior à posse do presidente Oliveira Bello. Paralelamente às suas atividades profissionais, públicas e privadas, TSG dedicava-se ao teatro, não só como ator mas também como autor de diversas peças. A mais elogiada delas – “Os Milagres de Nossa Senhora do Pilar” – foi encenada em março de 1884 (ver, no final deste trabalho, o capítulo intitulado “O dramaturgo Theophilo”). Em minhas pesquisas no Arquivo Público do Paraná, encontrei um ofício, datado de 29 de janeiro de 1884, assinado por TSG na condição de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina. Nesse ofício, TSG comunica ao Secretário Interino do Governo da Província que um carroceiro leva uma caixa que chegou do Rio de Janeiro, pelo vapor Rio Negro, para ser entregue naquela Secretaria. Ainda nesse final de janeiro, João Manoel Ribeiro Vianna, chefe da superintendência da 4ª circunscrição, de Antonina, relativa à instituição do ensino obrigatório, propõe em ofício ao presidente Oliveira Bello, a criação, na sua circunscrição, de 4 distritos, a cargo dos seguintes superintendentes: 1º distrito- Dr José Justino de Mello; 2º distrito- Major TSG; 3º distrito- Coronel Joaquim Alves de Araújo; 4º distrito- Dr Casimiro dos Reis Gomes e Silva. O ofício foi publicado no “Dezenove de Dezembro” (91). Em resposta a tal ofício, o presidente informa que, de acordo com sua proposta, nomeou os 4 nomes indicados (92). Numa edição de maio de 1884 (93) consta no DD edital da Mesa de Rendas de Antonina, assinado pelo administrador TSG. Ele comunica que as atribuições da repartição foram conferidas pelo decreto nº 7063, de 31.10.1878 no que se refere “ao despacho de gêneros estrangeiros sujeitos a direitos de consumo” e que a repartição é “habilitada para o comércio de importação direta” Em junho, o DD (94) informa que o presidente da província Oliveira Bello nomeou o comendador Joaquim Alves de Araújo, o tenente-coronel João Manoel Ribeiro Vianna, o major TSG e o capitão Benigno Augusto Pinheiro Lima para, em comissão, se encarregarem da construção de casas escolares na cidade de Antonina. A nota informa ainda que já existe quantia suficiente para dar-se começo a uma dessas casas. Em setembro, o DD (95), prosseguindo em suas matérias pró-abolição, registra este telegrama enviado de Antonina para o jornal pelo major TSG: “Reunião emancipadora animadíssima. 21 cartas de liberdade”. No mesmo DD, p.4, A. Soares Gomes (tio de TSG), agente da Companhia Nacional de Navegação em Antonina, “avisa que o vapor Rio Pardo passará para o norte, neste mês, a 26 e não a 31”. Ainda em setembro de 1884, o DD (96) refere-se a doações feitas recentemente ao Museu Paranaense. O major TSG doou: “o bico e pernas de uma grande ave aquática, uma moeda de prata dos Estados Unidos (one dime), duas moedas de cobre de Portugal, uma de Espanha, uma do Uruguai e uma do Brasil de 1882”. No DD de 1º de outubro (97), no Expediente da Presidência de 24 de setembro, consta despacho ao Inspetor da Tesouraria de Fazenda comunicando-lhe que o Ministério da Fazenda informou à presidência que foi indeferido “o recurso interposto pelo administrador da mesa de rendas de Antonina, Theophilo Soares Gomes, da decisão do tribunal do tesouro que o julgou obrigado a entrar com a quantia de 9:020$551, que perdeu, segundo alega, por caso de força maior /.../” O acidente ocorreu quando tal montante financeiro era levado, de Antonina a Paranaguá, por um funcionário de TSG cujo barco naufragou na baía de Paranaguá. Ele se salvou mas o dinheiro nunca foi encontrado. O assunto perdurará sendo abordado na imprensa durante vários anos. O “Dezenove de Dezembro” inicia 1885 arrolando os fatos mais importantes do ano anterior para a província (98). Dentre outros, são citados os seguintes: a chegada da locomotiva a Curitiba; a libertação de 300 escravos; a inauguração da escola Oliveira Bello; a colocação em execução do programa Ensino Obrigatório; a abertura de uma estrada de rodagem entre Porto União e Palmas; a inauguração da comunicação telegráfica de Guarapuava e Castro com Curitiba. A oposicionista “Gazeta Paranaense” é o novo nome de “O Paranaense” (continua inclusive sua numeração), sucedendo-o como “Órgão do Partido Conservador”. Sua edição de 9.02.1884, p. 3, transcreve matéria do “Echo dos Campos” em que Rocha Pombo critica os “mandões” de Palmeira, i.e. partidários de Jesuíno Marcondes. Ao longo de 1885, o jornal (99) publica diversas matérias contra TSG e os liberais. Assim, em 5 de janeiro, reproduz correspondência de Antonina, datada de 18.12.84 e assinada por “Chuviscos”. TSG, “administrador da mesa de rendas” da cidade é criticado por ter demitido, devido a motivação política, um modesto guarda daquela repartição, conservador, chamado Manoel Ribeiro Guimarães. Na véspera da eleição, segundo a matéria, TSG pediu à mãe deste, em sua própria casa, que o filho não fosse votar, porque ele seria mantido no emprego. Também o comendador Antônio Alves de Araújo, antes da votação, garantiu que ele não seria demitido. “Ontem”, porém, TSG chamou Guimarães e aconselhou-o a pedir demissão, “oferecendo-lhe ao mesmo tempo seus serviços” etc .Ante a recusa de Guimarães, TSG entendeu que era uma atitude política dele e o demitiu na mesma hora. A matéria refere-se à encenação de TSG com a mãe de Guimarães, ele que é “tão versado em assuntos dramáticos”, e também à atitude decepcionante do comendador Araújo, cuja palavra “deixou de merecer a confiança de seus amigos”. A matéria ainda questiona a nomeação do substituto de Guimarães ter mais de 40 anos, o que era contra a legislação vigente. A matéria conclui afirmando que no passado outro funcionário foi demitido por TSG “por ter dado vivas ao partido conservador e morras ao Sr João Vianna”, quando da derrota eleitoral deste. A “Gazeta Paranaense” prossegue criticando TSG e os liberais. Ainda em janeiro de 1885, no dia 24, sob o título “Os 10:000$000 ao mar?”, cobra de TSG o recolhimento aos cofres públicos daquele valor “que se diz perdido em viagem de Antonina para Paranaguá”, conforme já decidido pelo governo geral. Mas o governo provincial (presidido pelo liberal Brasílio Machado), “pactuando com os prevaricadores”, não manda TSG fazer tal recolhimento. A nota conclui assim: “Ainda são capazes de mandar o Sr. Theophilo à Europa com 30:000$000 para salvar-se desses apuros, a pretexto de introduzir a erva-mate”. No mês seguinte, na “Gazeta Paranaense” de 3.02.1885, nº 333, Suplemento, num balanço crítico da administração do presidente Brasílio Machado, lê-se o seguinte: “Em Antonina, teve igualmente demissão o Sr Manoel Guimarães, empregado da Mesa de Rendas, dirigida pelo homem dos 9:000$000 perdidos”. A matéria refere-se também à remoção de “D. Leocádia Rocha, professora da cidade de Antonina, para a vila de S. José da Boa Vista, não obstante ter consigo sua velha mãe que não pode, pela avançada idade, acompanhá-la, sendo o motivo desta remoção não ter querido a mesma professora prestar-se, conforme o desejo dos agentes do Sr. Brasílio, a pedir a seu cunhado Major Souza, nosso distinto correligionário, que se abstivesse de votar”. Na “Gazeta Paranaense” de 7 de março, matéria do correspondente em Antonina critica a situação política de lá e se refere ao “selvagismo que se assentou no meio de um povo” e a “indivíduos que constituíram-se em família, em família que fora um feudo”. A matéria critica o liberalismo e enaltece o partido Conservador de Antonina. Chama os liberais de selvagens: “esses selvagens, de mãos dadas com um sem número de sequazes, de desordeiros e vagabundos, atiram-se como feras no centro dos homens, no meio das famílias, e sem respeito às leis não trepidam em descarregar o golpe das suas armas, das armas do seu desprestígio, do desprestígio de sua política”. Em 28.06.1885, TSG é nomeado novamente administrador da Mesa de Rendas de Antonina pelo presidente da província, conforme a “Gazeta Paranaense” de 19 de setembro desse ano. O presidente era então o liberal Brasílio Machado de Oliveira, que se mantém no cargo até 21 de agosto, substituído pelos vice-presidentes Antônio Alves de Araújo e Joaquim de Almeida Faria Sobrinho. Este último, filiado ao partido Conservador, é quem transfere o governo ao presidente Taunay em 29.09.1885, segundo a “História do Período Provincial do Paraná”, op. cit, p.359, 369 e 379. TSG desta vez ocupa o cargo por menos de três meses, pois em 11 de setembro é demitido pelo presidente em exercício Faria Sobrinho. A fonte dessa informação é o editorial do DD de 19.09.1885, p.1, que contesta a legalidade de tal ato, pois só o governo geral poderia demitir TSG, que era “adido à alfândega de Paranaguá” (considerando a informação sobre a data da demissão, o período de exercício da presidência por parte de Faria Sobrinho deve ter sido maior do que o indicado na “História do Período Provincial”-- de 20 a 29 de setembro de 1885, uma vez que TSG foi demitido antes, em 11 de setembro, conforme o DD citado. Segundo a “Gazeta Paranaense” de 22.09.1885, p. 3, os liberais permaneceram 7 anos no governo; agora subiam os conservadores. De acordo com o jornal, edição de 3.2.1885, nº 333- Suplemento, estes foram os presidentes liberais do período: Rodrigo Otávio d’Oliveira Menezes, Manoel Pinto de Souza Dantas Filho, João José Pedrosa, Sancho de Barros Pimentel, Carlos Augusto de Carvalho, Luiz Alves Leite de Oliveira Bello e Brasílio Augusto de Oliveira Machado (sic, na realidade Brasílio Augusto Machado de Oliveira). Ainda em 1885, a “Gazeta Paranaense” de 21 de novembro, p. 2-3, informa sobre o debate na Assembleia Provincial “em 11 do corrente” entre os deputados Faria Sobrinho e Generoso Marques. Este criticou aquele pela decisão que tomou, quando no exercício da presidência, de demitir TSG do cargo de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, o que só poderia ser feito pelo Ministro da Fazenda, porque TSG era “um empregado da Fazenda geral”. TSG foi nomeado para esse cargo pelo presidente (liberal) Rodrigo Otávio por ato de 28.09.1878. Faria Sobrinho defendeu a legalidade da decisão que tomou, entendendo que o decreto nº 8912, de 24.03.1883, revogou o decreto nº 7063, de 31.10.1878. Ademais, o Comendador Araújo, quando no exercício da presidência (ele a exerceu, pela primeira vez, de 26.05.1883 a 17.08.1883 ou 3.09.1883), nomeou TSG para esse cargo. Se foi nomeado pela presidência, também podia ser por ela demitido, argumenta. Mas havia dúvidas quanto à revogação do decreto de 1878 pelo de 1883 (isso fora objeto de uma consulta da Tesouraria de Fazenda, ainda não respondida) e sobre a condição de TSG, se subordinado ao Ministério da Fazenda ou à presidência da província. Nesse mesmo ano de 1885, também o oposicionista “Futuro”, de Paranaguá, publicou matérias contrárias a TSG. Em maio, o periódico (100), dirigindo-se ao Ministro da Fazenda, Inspetor da Tesouraria do Paraná e Inspetor da Alfândega, questiona o fato de que o Administrador de Rendas de Antonina continue no cargo, já que não é empregado fazendário. Segundo o “Futuro”, ele foi nomeado pelo presidente da Província só porque pertence ao partido dominante. De acordo com a nota, o Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, pela legislação, devia ser escolhido pelo Inspetor da Alfândega de Paranaguá (a Mesa está subordinada à Alfândega), com aprovação da Tesouraria de Fazenda. Esses cargos -- o de administrador e o de escrivão -- deviam ser preenchidos por empregado da Alfândega de Paranaguá. A nota questiona seus “vencimentos enormes”, pois “além do vencimento do emprego que tiverem”, recebem gratificação mensal de 100$ (o administrador) e 50$.(o escrivão). Em outra matéria crítica, de junho do mesmo ano, o “Futuro” (101) identifica os ocupantes desses cargos. São respectivamente TSG e Pinto Chichorro. Na p. 1 se informa que a “situação liberal” no governo geral já domina há 8 anos. Em outra edição, no mesmo mês, o “Futuro” (102) publica nova nota (de Antonina) contra TSG (sem citar seu nome). Apoia-se agora numa circular recente do Ministério da Fazenda, que prevê a demissão de exatores “alcançados”. Pergunta-se qual será a informação que dará a Tesouraria de Fazenda do Paraná relativamente ao Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, “que se acha alcançado para com a Fazenda Pública em nove contos e tantos há perto de dois anos, e ainda se conserva no lugar. Esse Empregado, apesar de ter recorrido a quanto Tribunal há, e de serem indeferidos os seus recursos com ordens terminantes de indenizar os cofres .públicos, até hoje ainda não satisfez à Fazenda!”. Ainda em junho de 1885, consta outra matéria crítica em “Futuro” (103) dirigida ao Inspetor da Tesouraria de Fazenda e ao Inspetor da Alfândega. Pergunta-se aí qual é a lei em que se funda seu consentimento ao fato de que o Sr. José Maria da Costa exerça o cargo de administrador da Mesa de Rendas na qualidade de agente do Sr. TSG (este é o “chefe” da repartição). E em 26 de setembro do mesmo ano, p. 2-3, o “Futuro” transcreve esta mensagem do governo geral ao governo provincial: “Governo Geral- cópia- Ministério dos Negócios da Fazenda. Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1885. Ilmo e Exmo. Sr.- Comunico a V.Exa. que não pode ser atendido o requerimento transmitido com o seu ofício nº 14, de 11 de junho deste ano, em que o administrador da mesa de rendas de Antonina, Theophilo Soares Gomes, pede a concessão de um prazo para indenizar a Fazenda Nacional da quantia de 9:020$520, perdida na baía de Paranaguá; visto já ter sido essa pretensão indeferida por despacho de 16/10/1884. F. Belizario Soares de Souza”. Ainda conforme o “Futuro” (104) quem nomeou TSG e Chichorro para os lugares da Mesa de Rendas de Antonina foi o Comendador Araújo, baseado no decreto 8912, de 24.03.1883. Em maio, o DD informa que TSG foi promovido a tenente-coronel da Guarda Nacional. Depois, no final de julho, publica despacho do secretário do governo provincial ao tenente-coronel TSG, informando-o “achar-se nesta repartição a carta patente pela qual foi s.s. nomeado tenente coronel comandante do 4º batalhão de reserva da guarda nacional da comarca de Antonina”. (105). No “Expediente da Presidência” de 15 de julho de 1885, publicado no DD (106), despacho dirigido ao major TSG, em resposta ao seu ofício de 21 de junho, declara que foram recebidos “os volumes contendo diversos espécimens dos produtos naturais e artefatos, e 21 qualidades de madeiras que agenciou para figurarem na exposição de Antuérpia”. A presidência agradece o serviço que prestou à província. Em 12 de setembro o DD (107) critica o novo presidente da Província (presidente Faria, na realidade 1º vice-presidente), pela “derrubada” que promove do funcionalismo. Foram demitidos, dentre outros, o tenente-coronel TSG e Joaquim Procópio Pinto Chichorro, administrador e escrivão da mesa de rendas de Antonina. O editorial do jornal (liberal) do dia 15 (108) critica o presidente Faria por ter demitido o “nosso amigo” tenente coronel TSG. A matéria afirma que o presidente exorbitou de sua competência, pois de acordo com o decreto nº 7.063, de 31.10.1878, a Mesa de Rendas de Antonina é dependente da Alfândega de Paranaguá, e seus empregados estão subordinados ao Inspetor dessa Alfândega. TSG é “adido à alfândega” e “só demissível pelo respectivo ministério”. O editorial da edição do DD de 19 de setembro (109) reafirma essa opinião: o vice-presidente não poderia demitir TSG. Só o governo geral poderia demiti-lo, uma vez que TSG era “adido à alfândega de Paranaguá”. Mas o assunto é controvertido. Para os conservadores, pelo decreto nº 8.912, de 24.03.1883. a competência de nomeação teria passado ao presidente da província. Segundo o DD de 15.09.1885, p.2, a Assembleia Geral da Câmara dos Deputados decidiu que o tenente-coronel TSG, administrador da mesa de rendas de Antonina, seja “relevado de entrar para os cofres públicos com a quantia de que trata o aviso nº 86, de 24.11.1883” (TSG havia feito tal solicitação em requerimento à Câmara dos Deputados. Pediu “relevação de entrar para os cofres públicos com a quantia de 9:020$551, caídos e submergidos na baía de Paranaguá”). Nota no DD (110) informa que se realizou em Antonina, no dia 20 de setembro, uma reunião do partido Liberal na casa do cel Joaquim Alves de Araújo, à qual concorreu grande número de correligionários. Um diretório de 7 membros foi constituído para tratar dos interesses do partido. O tenente-coronel TSG é um de seus integrantes.. É citado depois do coronel Joaquim e do comendador João Manoel Ribeiro Vianna. Por essa nota, verifica-se que o presidente Faria estava sob a influência do deputado Manoel Euphrasio, do partido Conservador. O outro deputado paranaense à Câmara Nacional era Manoel Alves de Araújo, do partido Liberal. Informa o DD, ainda em setembro de 1885 (111), que os “nossos amigos” tenente-cel TSG e Benigno A. Pinheiro Lima “pediram demissão dos lugares de superintendentes do ensino obrigatório da cidade de Antonina”. Isso era, certamente, consequência da mudança dos ventos políticos, a favor agora do barco conservador.... No DD de 4.10.1885, p. 2-3, consta matéria, em “Ineditoriais”, em que o caso da demissão de TSG do cargo de administrador da Mesa de Rendas de Antonina é abordado. O autor do artigo (“S”) afirma que o presidente Faria precisava “pagar uma dívida” com Euphrasio Correa ao nomear para o cargo Joaquim Barnabé de Linhares,“estranho à alfândega de Paranaguá”. No DD do dia 9 (112) consta matéria intitulada “O Sr. Munhoz”. Trata-se de Alfredo C. Munhoz, membro de um governo conservador, o qual destituiu TSG do cargo de Administrador da Mesa de Rendas de Antonina, assim como seu escrivão. Munhoz não ignora a legislação (sabe que o decreto 8912/83 não revogou o decreto 7063/78) mas “tudo procura escurecer a fim de colocar na mesa de rendas dois protegidos do seu novo patrão” (TSG, que era ligado ao partido Liberal, estava assim, politicamente, em campo oposto a Alfredo Munhoz, cujo irmão, Florêncio, era marido de Julieta, meia-irmã de TSG. Florêncio (meu bisavô), inclusive, chegou a ser perseguido politicamente pelo presidente liberal Brasílio Machado de Oliveira). Generoso Marques, conforme uma edição do DD de outubro de 1885 (113) fez discurso na Assembleia Provincial em que aborda a questão da demissão do administrador e escrivão da Mesa de Rendas de Antonina. Segundo ele, baseado no art. 6º do decreto nº 7063, de 31.10.1878, aprovado pela lei nº 327, de 28.09.1885, ambos os cargos devem ser ocupados por empregados da alfândega de Paranaguá.. Em novembro o jornal (114) publica extrato do discurso do dep. Generoso Marques, relativo à demissão de TSG. Ele diz aí: “O vice-presidente, no furor da derrubada, demitiu um empregado da fazenda geral, que só pelo ministro da fazenda podia ser demitido”. Por “vice-presidente” ele se refere ao presidente Faria, que estava no exercício da presidência da província. Ainda em novembro de 1885, outra edição do DD (115), informa que também o dep. Emygdio Westphalen, em discurso na Assembleia Provincial, referiu-se a TSG e à sua demissão ilegal do cargo de administrador de rendas de Antonina. O espaço do editorial do DD de 21.10.1885, p. 1, é ocupado por matéria intitulada “Cartas de São Paulo”, assinada por Cunha Brito, em que critica os políticos do partido Conservador, especialmente as demissões nos governos provinciais. A certa altura o autor afirma: “Não foi sem grande constrangimento que eu o vi (um comprovinciano /.../ na administração provincial), de desatino em desatino, /.../ exorbitando das suas atribuições, chegando o seu arrojo ao ponto de arvorar-se em ministro da fazenda, para lavrar demissões que só por este podiam ser feitas”. Em meados de 1886, o DD publica uma nota com informações interessantes que ajudam a caracterizar a Antonina de TSG. A cidade possuía então 331 prédios, sendo 25 sobrados e 306 térreos; 165 prédios eram ocupados pelos proprietários e 166, por locatários (116). Também em 1886,o DD de 16 de maio, p. 2, publica matéria assinada por TSG em que censura João Timotheo de Paula por ter “aparecido na ‘Gazeta’ de 11 do corrente com a publicação de uma peça policial que apenas depõe contra si”. O nome de TSG é citado na publicação e para ele houve a “intenção de fazer de mim um vil detrator ou coisa semelhante”. Timotheo, pelo que se depreende da nota, está envolvido num processo de estupro. TSG faz publicar na mesma matéria carta de Manoel Gonçalves de Oliveira Motta (datada de “Antonina, 11 de maio de 1886”) em que este afirma que TSG, a pedido da caseira de Manoel (Francisca Maria de Jesus), comunicou-lhe o ocorrido com a sua (de Manoel) tutelada Margarida (que era órfã), “pedindo-me que não desse escândalo, e procurasse com calma remediar o mal, entendendo-me particularmente com João Timotheo”. Na oposicionista “Gazeta Paranaense” (“Órgão do Partido Conservador”) de 20.05.1886, p. 2-3, consta em “A pedido” matéria de Antonina assinada por João Timotheo de Paula contra TSG. Critica-o pela matéria contida na edição do DD de 16 de maio (v. acima). João Timotheo informa publicamente a “aleivosa imputação que sobre mim se procurou atirar” (a de deflorador da menor Margarida, tutelada de Manoel Gonçalves de Oliveira Motta) (117) Manoel Gonçalves tem 40 anos, vive com uma mulher há 12 anos (sua “cozinheira”). Alguns dias depois, a “Gazeta Paranaense” (118) volta a abordar o assunto e a criticar o DD, “que aceita toda e qualquer publicação”. João Timotheo se defende da acusação anexando à matéria atestados sobre sua conduta “irrepreensível”, e levanta suspeitas sobre Manoel Gonçalves que vive amasiado, afirmando que Margarida apareceu grávida, “em estado muito adiantado”, em casa de seu tutor. A razão básica dessa discussão é política. O liberal DD quer prejudicar o conservador João Timotheo, que tem pretensão ao 2º Tabelionato de Antonina, para favorecer o seu candidato. Cf também a “Gazeta Paranaense” de 27.05.1886, p. 3: João Timotheo afirma aí que tudo estaria bem com ele se não tivesse cometido o “crime” de candidatar-se ao 2º Tabelionato. Cf ainda a “Gazeta Paranaense” de 28.05.1886, p. 2 e de 29.05.1886, p.3, que conclui a matéria intitulada “O Dezenove de Dezembro e João Timotheo de Paula” Informação adicional desta última edição: Margarida é citada como ”ingênua” e “filha da escrava Eva”. “Ingênua” significa já nascida livre da escravidão, beneficiada pela Lei do Ventre Livre, de 1871 (119). Uma nota reveladora da política mesquinha que se praticava (ou se pratica ainda) no interior do país foi publicada numa edição do DD de outubro de 1886 (120). Segundo o jornal, o “inspetor paroquial” prejudica uma professora em Antonina porque ela é filha de um “amigo” do DD (i.e., trata-se de um liberal). Suspendeu-lhe o pagamento dos vencimentos porque sua escola teria apenas 8 alunos, mas os pais dos alunos encaminharam abaixo-assinado demonstrando que a escola tem, na realidade, 26 alunos. De qualquer forma, a legislação prevê não suspensão mas redução proporcional dos vencimentos quando o número de alunos da escola for inferior a 10 (nos bairros). A nota informa ainda que o “inspetor paroquial” tem candidato para o lugar daquela professora, que se chamava Maximiama de Carvalho Castanho. No mês seguinte, consta matéria no DD (121) enviada de Antonina e datada de 1º de novembro de 1886. O correspondente trata da inauguração festiva de um “engenho modelo para o preparo de arroz”, de propriedade do comendador João Manoel Ribeiro Vianna. Seu “incansável” administrador é o tenente-coronel TSG. Segundo a matéria, esse deve ser o quarto engenho que se estabelece no Brasil, com mecanismos do “afamado” construtor italiano Leocarni di Vercelli (há um em Vassouras, outro em Iguape e um terceiro em S.Francisco-SC). João Vianna, o proprietário do engenho referido acima, era então um dos deputados à Assembleia Provincial (122). Várias matérias do DD dessa época referem-se ao sogro (do 1º casamento) de TSG, o engenheiro civil Fanor Cumplido. Na mesma edição do DD mencionada na nota 122, p. 2, é publicada nota sobre sua proposta à Assembleia Provincial. Ele requer “garantia de juros de 7% sobre o capital de 500.000$000 durante 20 anos, a fim de poder levar a efeito a fundação de um engenho central para a extração dos produtos da cana de açúcar no município de Antonina”. A presidência da Assembleia Provincial sancionou decreto autorizando o governo a conceder a Fanor Cumplido tal garantia de juros (123). No princípio do ano seguinte, 1887, no DD de 8 de janeiro, p. 1, consta que Fanor Cumplido assinou no dia anterior “o contrato que garante juros à empresa que vai fundar na cidade de Antonina, um engenho central para extração de produtos da cana de açúcar”. Em 1º de fevereiro, o DD (124) publica o projeto de lei proposto pelas Comissões reunidas de Indústria e Fazenda da Assembleia Provincial sobre o requerimento de Fanor Cumplido. O art. 1º autoriza o governo da província a lhe conceder a garantia de juros solicitada para o capital de até 500:000$. Uma informação adicional que aí consta é que o engenho que vai extrair produtos da cana de açúcar terá capacidade para moer 30 milhões de kg de cana. Mais tarde, no mesmo ano, o DD (125) refere-se a outro exemplo da atividade empreendedora de Fanor Cumplido. Ele foi autorizado a introduzir 200 famílias de agricultores europeus em pequenos núcleos coloniais no município de Antonina. Quase dois anos mais tarde, consta no DD (126) que o engenheiro civil Fanor Cumplido “obrigou-se, mediante contrato com o ministério da Agricultura, a estabelecer em terrenos de sua propriedade um núcleo colonial onde colocará pelo menos 300 famílias de imigrantes”. Logo depois, quando o DD iniciou a publicação do referido contrato (127), ficamos sabendo que tais terrenos de Fanor Cumplido situavam-se no vale do rio Cachoeira no município de Antonina. Bem no final de 1887, o DD de 21 de dezembro, p. 1, informa que o periódico “O Labor”, de Antonina, é “redigido pelos Drs. Passos e Pedro Moreira e tenente-coronel Theophilo Gomes”. Em 1888 Fanor Cumplido pediu modificação do contrato estabelecido com o governo provincial. A ata da 33ª sessão ordinária da Assembleia Provincial realizada em 4.09.1888, publicada depois no DD (128), registra a entrada de um requerimento de Fanor Cumplido “pedindo modificação do contrato que assinou para a construção de um engenho, bem como prorrogação da cláusula 5ª do contrato por 15 meses.” Com relação a esse assunto, o deputado João Vianna mandou à mesa um aditivo autorizando o governo “a modificar, de acordo com o concessionário, a cláusula 1ª do contrato celebrado com o engenheiro Fanor Cumplido para a construção de um engenho central de açúcar no município de Antonina, permitindo a fundação de dois engenhos em vez de um, com a mesma capacidade total e sem aumento de ônus para a província; podendo prorrogar por mais 15 meses o prazo da cláusula 5ª do mesmo contrato”. Um parágrafo desse aditivo dispõe ainda que “Um dos engenhos poderá ser construído em qualquer dos municípios do litoral, onde o concessionário julgar mais conveniente”. O projeto e seu aditivo foram aprovados. Um ano mais tarde, o DD volta a mencionar esse projeto. O jornal (129) publica telegrama de Fanor Cumplido (do Rio) ao presidente da província informando-o de que foi “concluído (o) levantamento (de) capitais (para os) engenhos centrais, capacidade 50.000 sacos; custarão 1000 contos. Paraná livre na importação açúcar, consumo capitalizará 600 contos anualmente”. No DD de 17.10.1888, p. 2, consta matéria (baseada na “Gazeta da Tarde” de 9.10.1888) sobre o debate na Câmara dos Deputados entre o político baiano Araújo Góes e Alves de Araújo, relativamente ao tema da Ordem do Dia: “Discussão do projeto nº 63, relevando o major Theophilo S. Gomes,da mesa de rendas de Antonina, do pagamento da quantia de 9:020$551”. Araújo Góes propôs que o projeto nº 63 voltasse à comissão de fazenda para dar parecer. Alves de Araújo “impugna o requerido”. “Defende o administrador da mesa de rendas de Antonina”. A matéria conclui informando que a discussão foi adiada. Depois, o DD de 20.10.1888, p. 1, publica nota intitulada “Câmara dos Deputados” chamando a atenção dos leitores para a transcrição que o jornal faz nesta edição da discussão havida na Câmara acerca da responsabilidade de TSG pelo extravio da quantia de 9:020$551. Na p. 3 dessa mesma edição do DD, o jornal transcreve matéria do “Diário Oficial” de 10.10.1888 que aborda a 1ª discussão na Câmara dos Deputados do projeto nº 63 de 1885, que releva TSG de entrar para os cofres públicos com a quantia de 9:020$551 réis, de que trata o aviso nº 86 de 24.11.1883. O deputado Araújo Góes quer que o projeto nº 63 volte à Comissão de Fazenda para ter novo parecer. Mas dois dos três membros dessa Comissão foram favoráveis ao projeto. Também o dep. (Manoel) Alves de Araújo o defende, pois o parecer da comissão de fazenda baseou-se em outro parecer, o da Tesouraria da província do Paraná, destacando que os funcionários que informaram são adversários políticos de TSG—“o Sr Ermelino de Leão, desembargador da Bahia”; “o Sr. Munhoz, inspetor da Tesouraria” e “o Sr. Lagos, procurador da Fazenda Pública”, “pessoas todas de confiança do governo conservador”. Alves de Araújo relata “o fato que deu lugar a toda essa discussão”: “A tesouraria de fazenda deu ordem à mesa de rendas de Antonina para mandar os saldos à alfândega de Paranaguá. A viagem de um porto para outro faz-se em botes; em uma destas viagens o empregado levava 9:020$, mas teve necessidade de ir à proa, e nessa ocasião caiu. Foi ao fundo, e com dificuldade se salvou mas o embrulho do dinheiro que ele tinha no bolso desapareceu apesar das maiores pesquisas que se fizeram”. Esse empregado que transportava o dinheiro era o guarda de alfândega Floriano José Martins. No âmbito do Executivo (Ministro da Fazenda, Conselho de Estado) reconheceu-se “não haver a menor suspeita de criminalidade”. Mas o assunto deve ser resolvido pelo Poder Legislativo (por isso foi para aí encaminhado). A imprensa do Rio de Janeiro tratou da questão. Houve exploração política do episódio (pois contrapunha liberais e conservadores). Insinuou-se que TSG ficou com os 9:000$ em seu poder, entregando um embrulho de papeis sujos, mas Alves de Araújo faz o elogio de sua honestidade. TSG, por seis (sete?: a leitura está prejudicada no original- DvE) anos (130) “exerceu o lugar de administrador da mesa de rendas com a mais rigorosa fiscalização e honestidade /.../ em uma ocasião teve já em seu poder a quantia de 200:000$ que lhe foi entregue para fazer seguir para Curitiba". Deputados afirmaram no debate que mesmo que não haja responsabilidade criminal de TSG, há responsabilidade civil e assim ele deve fazer o ressarcimento daquela importância. Joaquim Nabuco diz que não é isso que está em questão. Diz também que “O contribuinte pode aceitar essa despesa se achar que é de interesse público”. A discussão ficou adiada. O “Sete de Março” de outubro de 1888 (131) também aborda a questão. Ele afirma que entrou em discussão na sessão de 9 do corrente da Câmara dos Deputados o projeto que releva o major TSG, ex-administrador da Mesa de Rendas de Antonina, do pagamento de 9:020$551. Segundo um deputado do Piauí “o indivíduo não é criminoso, mas a responsabilidade ele a tem”. Seis meses mais tarde, o assunto ainda estava pendente na Câmara dos Deputados. Em seus “Annaes”, relativos à sessão preparatória de 27 de abril de 1889 (conforme o site da Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileira) consta este registro, sob o título (Projetos) Remetidos às comissões e pendentes de parecer: -Relevação a Theophilo Soares Gomes, administrador da Mesa de Rendas de Antonina, de entrar para os cofres públicos com a quantia de 9:020$351. No final de 1888, em dezembro, a “Gazeta Ilustrada”, editada em Curitiba, publica matéria sobre o engenho de arroz em Antonina, propriedade de TSG, “ativo, probo e inteligente industrial” (ele contava então 34 anos de idade). Inclui gravuras, não só do engenho mas também de seu proprietário. O engenho “é o primeiro e único em seu gênero que existe nesta província”. Ocupa um “vastíssimo edifício”. As máquinas são italianas. O engenho “beneficia 20.000 sacas de arroz anualmente, que são exportadas, em sua maior parte, para a corte. Ocupa 18 operários, 1 guarda-livros e 1 ajudante de escritório. É enorme o capital ali empregado, e são reais os benefícios prestados por aquele estabelecimento aos lavradores de Paranaguá, Antonina e S. Francisco, já suprindo-lhes a planta e adiantando-lhes dinheiro para as despesas do plantio e colheita, já comprando o arroz por bom preço” (132).. Havia assim tal relação de dependência entre os lavradores da região, paranaenses e catarinenses, e o engenho de arroz de TSG. No número anterior dessa mesma publicação, consta artigo de TSG sobre Narciso Figueras, proprietário da Litografia do Comércio, situada na rua do Riachuelo, 29, em Curitiba, que editava a revista. Salienta a importância da empresa desse catalão (“já experiente litógrafo em Barcelona”, segundo o “Dicionário Histórico-Biográfico do Paraná”). Theophilo revela aí as suas convicções contrárias ao espiritismo do amigo (133). O ano de 1889, o último do Império, principia festivamente em Antonina. Uma edição do DD de janeiro desse ano (134) publica longa matéria na seção “Correspondência” datada assim—“Antonina, 8 de janeiro de 1889”, sobre as manifestações de júbilo na cidade “pela celebração de contrato entre o governo e a companhia francesa ‘Chemins de Fer’ para a construção do ramal ferroviário de Morretes a Antonina” e prolongamento da linha de Curitiba ao centro da província. A matéria enaltece a atuação do conselheiro Manoel Alves de Araújo em prol da província do Paraná, e refere-se aos elogios a ele feitos por TSG e outras lideranças, cujas residências foram locais de parada or ocasião da marcha dos manifestantes pela cidade, que seguia uma banda de música e dava vivas a Manoel Alves de Araújo. A passeata terminou às 12 horas da noite. Em Curitiba, no mês de junho de 1889, como se verá adiante (cf cap. VIII- “O dramaturgo Theophilo”) foi encenado, com sucesso, no teatro São Theodoro (antigo nome do teatro Guaíra), a peça “Os Milagres de Nossa Senhora do Pilar”, de TSG. Também em junho ocorreu um evento social importante para Antonina. Segundo o DD (135), no dia 21 seguiu em trem especial de Curitiba para aquela cidade o presidente da província Jesuíno Marcondes e família, o conselheiro Alves de Araújo e família, o Dr. Generoso Marques e outros. Desceram na estação de Morretes, festejados com foguetes e banda de música, e aí almoçaram. À tarde, seguiram para Antonina. Foram recebidos em casa de TSG por ele e sua família, pelo Dr. Lamenha Lins, tenente-coronel João Vianna, juiz de direito, juiz municipal e outras pessoas. À noite, banda de música se apresentou na frente da casa de TSG, onde se hospedaram o conselheiro Jesuíno e família. No dia seguinte, à noite, nessa mesma residência, teve lugar o casamento de Ricardo Guimarães com Aurora Cumplido Guimarães, filha do Dr. Fanor Cumplido, “cunhada daquele nosso amigo” (TSG) e sobrinha de Jesuíno. TSG foi um dos quatro padrinhos escolhidos (ele foi padrinho da noiva). Finda a cerimônia religiosa, TSG serviu um banquete aos convidados. Também o sogro (do 1º casamento) de TSG se casaria novamente. Mas não em Antonina e sim no Rio de Janeiro. Uma edição do DD de outubro de 1889 (136) informa que o tenente-coronel TSG foi padrinho da noiva do Dr. Fanor Cumplido no casamento deste com D. Leonor Conceição Silva, irmã dos srs. Arthur e Arlindo de Souza Gomes, negociantes no Rio de Janeiro. O casamento foi realizado nessa cidade, na matriz da Glória. Alguns dias depois, o DD (137) noticia a chegada a Curitiba do Dr. Fanor Cumplido. Na gare da estrada de ferro, ele foi recebido por amigos, inclusive o conselheiro Jesuíno Marcondes. No governo de Jesuíno Marcondes, o último da província no tempo do Império, TSG volta a ocupar o cargo de administrador da Mesa de Rendas de Antonina. O DD de 4.07.1889, p. 1, informa que foram exonerados os ocupantes desse cargo e o de escrivão, e restabelecido nesta repartição pública o regime do decreto nº 7063, de 31.10.1878, continuando TSG como adido à alfândega de Paranaguá. O despacho do presidente da Província adotando essas medidas é publicado no DD (138). Logo depois, na edição de 8.07.1889, p. 1, do jornal consta o despacho do presidente à Tesouraria de Fazenda “para que se mande dar pela alfândega de Paranaguá imediata execução” das medidas em questão. Nesse mesmo DD, p. 1, uma nota informa que foram designados pela inspetoria da alfândega de Paranaguá “para servirem na mesa de rendas da cidade de Antonina como administrador o tenente-coronel Theophilo Soares Gomes e como escrivão o cidadão Elísio de Siqueira Pereira Alves“.

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